abril 29, 2010

Eu conheci.


A primeira vez que o vi, eu assustei até demais. Jamais poderia crer que um dia aquilo aconteceria, nem nunca imaginei que era algo visível. Na realidade, sempre duvidei da existência.

Meu anjo da guarda estava sobre o meu corpo, me fitava com um sorriso largo em sua face. E sua aparência era típica de contos infantis, cachinhos dourados, olhos claros, pele branca, bem branca. Estava vestido com apenas uma peça de roupa, algo largo e de cor clara, um tecido semelhante a seda. Ainda não tenho certeza se é um garoto ou uma garota, e para falar a verdade, sei nem se tem essa diferenciação. Seus dentes perfeitos que montavam seu sorriso me conquistavam e me faziam sorrir também. A sensação plena de paz que tomou conta do meu corpo me fez estremecer, mas com a certeza de que era por algo bom. Mesmo um pouco distante, pude enxergar seus lábios se mexerem e como mágica, fui presenteada com um “bom dia!” em um tom doce no pé do ouvido.

Desde então, minhas manhãs são iniciadas e tranquilizadas assim, com um lindo pequeno garoto, ou garota, me desejando bom dia antes mesmo de eu me levantar.

abril 26, 2010

2040.


Pequena menina,


Com certeza isso é o tipo de coisa que deveria ser dito olhando nos olhos, mas como eu sei, ou acho que sei, as pessoas tendem a esquecer como são as circunstâncias em determinadas idades quando tem filhos. Então preferi escrever-te essa carta que somente será lida daqui a trinta anos. No seu aniversário de quinze anos.


Minha linda, todos dizem que é nessa idade que deixamos de ser menina e passamos a ser mulher. Não acredite! É bobagem! Não é obrigado ser mulher nessa idade, até porque, pelo o menos até agora, você só responderá como responsável por seus atos com os dezoito anos. Enfim.


Se ame. Se ame mais do que qualquer homem (ou mulher). Se por um acaso um dia o espelho te disser que não é bonita, saia da frente dele o mais rápido possível. NÃO o escute. Por que? Porque ouvi-lo lhe fará mal, e te tornará em alguém obcecada para buscar uma perfeição. E acredite, essa perfeição não é perfeita para você, e sim para os outros. Estude! Estude muito, é a única coisa que te dará adjetivos realmente válidos. Não queira fazer parte dos “bons” do colégio -aqueles que tiram nota baixa e comemoram. Caso tenha um encontro marcado, conte-me. Conte não somente para mim, mas para seu pai também -não está nos meus planos ter um marido cabeça fechada-, nossa relação será melhor assim. Namorados? Não se zangue comigo, eu vou contrariar muito quando eu não gostar da pessoa, mas tente escolher bem, por favor. Ah! Tecnologia? Passe longe disso, ou pelo o menos evite criar vínculos amistosos ou amorosos através dela. Isso te derrubará e vai te deteriorar aos poucos. Seu irmão logo completará a maior idade, e com isso vem faculdade, amigos mais velhos, bares, baladas. Não queira acompanhar esse ritmo. Talvez você dê conta dele, mas com certeza, você não se sentirá confortável -eu passo por isso. Não sofra sozinha. Eu sei o quanto é bom chorar calada, mas isso não faz bem. Caso faça isso com frequência, sua família será excluída da sua vida e nunca iremos poder te ajudar.


Saiba desde já, se por algum acaso duvida, que eu te amo muito! Entenda que tudo o que faço hoje, com meus quinze anos, já é pensando no seu futuro e no de seu irmão. Vocês estão no meu coração sem nem terem um pai ainda. Mas eu sei, e acredito de verdade, que de alguma forma já está tudo traçado, e que seremos uma família feliz.


Feliz aniversário, minha princesinha.


Sua mãe, L.


Campinas, 26 Abril, 2010.

abril 24, 2010

Have pride in who you are.


Eu sabia que já estava na hora de confessar meus desejos. Sabia que na verdade, já tinha passado dela. Estava sendo nada fácil ter de conviver com aquele segredo a tanto tempo - dois anos talvez. A briga, o reboliço, que causaria chegaria nem perto do que a que tive de enfrentar comigo mesma - o complexo de que era errado. Foi nesse momento de desespero para contar que tomei fôlego e sentei-me. Seu rosto me transmitia uma imagem de paz que logo, eu tinha certeza, mudaria. Os olhos me queimavam, eles me intimidavam, e quase eram o suficiente para me fazer desistir. Ergui minhas mãos com as palmas viradas em sua direção, como um gesto de quem pede calma em silêncio. Logo as abaixei novamente apoiando-as sobre minhas pernas. E então, comecei a falar.

- Por favor, apenas me ouça! Pode ser que isso derrube nossa família, pode até ser que isso te faça criar um tipo de desgosto por mim, mas eu preciso falar. Não posso mais guardar esse tipo de segredo com medo de ser rejeitada. Talvez eu nunca devesse ter assumido para mim mesma e de alguma forma ter aceitado, mas seria um erro imenso querer mudar meu gosto, meu instinto. É sim, já faz dois anos ou talvez mais. Eu gosto de mulheres! –Tomei um fôlego profundo, e logo continuei sem dar espaço para que me retrucasse. – É! De mulheres. Não, eu não gosto somente de mulheres, e nem tenho vontade de ter uma vida sexual com alguma (“pelo o menos não ainda”, pensei), e não significa que olho para todas que cruzam o meu caminho com desejo. Homens me atraem. E mulheres me fazem tão bem quanto eles. Já tive relações com algumas e, é claro, apenas elas sabem desses momentos. Apaixonei-me por uma, mas não deixei que o sentimento se alastrasse, porque eu já sabia que nunca poderia trazê-las para casa e apresentar para meus pais como minha namorada.

Deixei que um peso imenso caísse dos meus ombros e logo os deixei cair juntos. Minha coluna adquiriu um formato mais arredondado, e minha cabeça permitiu-me apenas olhar para o chão. Eu podia sentir uma reação igual a minha, talvez uma decepção ou um alívio por saber o que estava acontecendo. Insano.

Chacoalhei minha cabeça rapidamente, cerrei meus olhos com força e fixei em minha mente.
“Se não tem forças para admitir ao seu próprio reflexo sua bissexualidade, como poderá olhar aos que te amam e dizer? Pode ser fácil falar sem parar e sem ter alguém para responder-te. Mas a pressão para que mudes, para que desista e se convença de que é apenas um momento, será muito maior do que a que um espelho pode parecer causar. Seja forte!”

Levantei de minha cama e deixei que o espelho refletisse apenas o espaço vazio que ali ficou.

abril 21, 2010

Loveless.


- (...) Eu te amo!
- Sério? É verdade? Você me ama?
Um silêncio instantâneo tomou conta por alguns minutos.
- Não! É que eu queria puxar um assunto e não sabia o que dizer.
- Ah!

Núcleo atômico.


Eram na verdade dois prótons cobertos por pele de alabastro. Os olhares intensos que trocavam eram perceptíveis aos olhos de qualquer um que dedicasse alguns segundos para aquela cena. A maneira como ela se aproximava dele mostrava claramente uma alma lânguida e inerme, em relação à aquela sensação de estar chegando perto ao agro de tão igual.

Suas mãos se uniram, mas seus corpos mantiveram-se distantes -uma verdadeira labuta! Ali, naquela junção entre duas cargas positivas, houve um espaço de inteiração forte, onde ambos já estavam acomodados indo contra à lei da física.


A dolência não se deixava passar por sorrisos adamastóricos que aos poucos surgiam. O palor de suas peles ia se partindo quando a rutilância tornava aos seus olhos. Tamanho exagero de sentimentos que ali estava presente, que nem sequer um ocaso poderia ofuscar.


Outrora os elétrons, a sociedade, traziam de volta os fantasmas noctívagos que implantavam naquela união sementes do monótono, do lasso. Afundavam-os em perfeita hipocondria.


Desd'aí só mesmo a imaginativa poderia salvá-los e trazê-los de volta ao seu mundo particular. Onde somente eles existiam.

abril 17, 2010

Veja bem...


Não olhe nos meus olhos tentando encontrar alguma alma,
porque não encontrará!
Não procure sentimentos no meu coração,
porque não achará!
Me falta uma parte, a qual talvez eu nunca mais terei de volta.
Me faltam pedaços que trariam verdades
e que justificariam todas as minhas revoltas.

Não adianta tentar encontrar em mim vestígios de sentimentos,
ou uma alma livre com esperanças.
Enfrente somente minhas atitudes,
pois elas revelarão meias ideias, alguns pensamentos,
parte das lembranças.

E a partir disso, você saberá quem sou.
Me conhecerá ao meio, na verdade,
porque sequer inteira estou.

abril 13, 2010

Efeito borboleta.


Há quem acredite que a solução do que se vive no presente, seria voltar no tempo e mudar situações. No entanto, quais seriam as novas consequências a viver?

Arrependimentos sobre atos passados podem existir, mas o desejo de mudá-los é, particularmente dizendo, inaceitável. De uma forma ou outra, os erros e decepções fazem com que haja um amadurecimento. E tendem a nos levar ao progresso, e não à vontade de regredir.

No momento que tomamos uma decisão, não sabemos quais serão os frutos dela. Logo, mudarmos o passado seria tão incerto quanto quando o vivemos como presente.

Ora erro, ora acerto. Ora incerto, sempre incerto.

abril 04, 2010

Por que?


Por que é que temos essa necessidade de ter um amor, ou até mesmo um affair? Por que nunca estamos bem sozinhos, com amigos, ou família? Por que abrimos mão de relacionamentos amistosos tão facilmente para nos entregarmos para algo que sequer sabemos se dará certo? Deve ser o efeito causado pelo status "solteiro(a)". Tão insano.

Sei bem, acreditem!, no quão ruim é querer um abraço de aconchego, e não ter. Como é desesperador não ter em quem olhar nos olhos e chamar de amor, ou qualquer outro apelido bobo e incompreensível. Compreendo a angustia de desejar alguém com um olhar mais sonhador, e não poder passar disso. Tão ingênuo.

Talvez por eu ainda não ter passado por esse fogo que, dizem ser, é o amor, que eu não entenda esse medo todo de não tê-lo novamente. Mas, cá comigo, concorda que eu deveria estar a puxar meu cabelo por poder cair morta sem nunca ter provado o gosto do tão dito? Por que, como já não é novo, amor só se sabe o que é, quando sente. Tanto é que explicações são vagas, são substituídas por meros sintomas como o de uma gripe qualquer.

Por fim. De novo aconteceu. Mais uma vez. Não quero perder mais amizades. Acho que nem quero mais tê-las comigo se for para vê-las escapar por entre meus dedos, por causa de uma ameaça de romance.

É tudo tão utópico e desnecessário. Tão tão.