dezembro 20, 2010

De volta ao lar.


Não posso dizer que ter sido uma peça fora do tabuleiro somente me tenha feito mal. Porque embora eu estivesse em uma "missão" de quase auto destruição, o ato de refletir se fez mais acessível nos dias que eu, aparentemente, estava sozinha. Eu havia me fechado no meu mundo, havia me programado a recusar qualquer tipo de novidade que pudesse me tirar da zona de conforto. Não me fez totalmente bem, mas sei que cresci muito por ter aprendido a lidar com minha loucura.

Agora, estar em família e me sentir bem é uma coisa nova para mim. Quero dizer, é algo que a muito tempo eu não tinha. Depois de tantos meses, quando me olho no espelho, hoje, para pensar nos meus dias, sinto-me estranha ao notar que voltei ao jogo. Voltei para o baralho. Não está sendo fácil me controlar por um medo de machucar quem me ouve, mas tem sido prazeroso ver os resultados e ter pessoas ao meu lado para presenciá-los também. O que antes tanto parecia confuso e absolutamente recusável, voltou a ser a estrutura básica. O apoio que eu não tinha, a cada dia mais, tem sido exposto. A confiança está voltando para o lugar. O respeito e o carinho, de mãos dadas, estão cada vez mais presentes. O medo de ser punida e não compreendida tornou-se um medo de perder aqueles que, querendo ou não, notando ou não, sempre estiveram ao meu lado.

Estou podendo ser eu mesma. Estou me sentindo viva!

dezembro 18, 2010

Algum tipo de desabafo.


Criança. Menina. Mulher. Dezesseis anos.

Passei maior parte dos meus dias buscando dar alegria àqueles que cruzavam meu caminho, fugindo de uma convivência particular comigo mesma e mais ninguém. Sorrisos alheios eram os meus sorrisos, assim como as lágrimas, aos poucos, também se tornaram as minhas. Meus motivos viraram insetos em uma sala escura; minha motivação tinha um nome só que eu me recusava a mudar: os outros. O medo me segurou dentro de uma jaula que eu mesma fiz questão de soldar, minha proteção era a armadura que eu vestia para enfrentar a guerra de não ser eu.

Por diferenças no modo de lidar com as situações, eu desfiz amizades como quem desamarra um laço, abri mão do maior bem da humanidade e tive que aprender a fechar os olhos e me entregar mesmo que desconfiada. Novamente, fugindo da convivência "eu-eu". Todos os pronomes, no meu mundo, foram mudados de posição, e aquele que deveria ser o primeiro, tornou-se o último. Sem receio, vivi assim por muito tempo. De olhos fechados. Me apaixonei por pessoas que nunca vi, acreditei em olhos terrivelmente fantasmas, e me doei ao coleguismo que muito me era conveniente.

Achava que tudo estava bem. Afinal, ninguém nunca soubera dos meus problemas e dos meus verdadeiros sentimentos. A simpatia falsificada e já bem treinada enganava qualquer par de olhos e um coração que aparecia. (E ainda engana!) Acreditava sem dó na ingenuidade do ser humano, e cuidava para que a minha permanecesse bem escondida. Jurava para mim mesma que lidar com os outros, com a vida dos outros, era melhor que ter de encarar a minha realidade frente ao espelho. Me enganei profundamente. A criança, menina, mulher, então se viu sentada, em vez de frente ao espelho, frente à um profissional da saúde mental. Os anseios, os medos, as rivalidades, as decepções, os arrependimentos, as lembranças e as marcas foram postas e expostas claramente.

A prioridade, enfim, foi invertida e meus sonhos se posicionaram no devido lugar; o primeiro lugar! E o aprendizado contínuo de viver comigo mesma me mostrou que sozinha posso mais que acompanhada. Sozinha e determinada tenho a força do mundo.

A busca maior, hoje, é para mim e comigo.

dezembro 03, 2010

Surtando em palavras.



Não sei quem é essa mulher. Não sei a idade, o estado civil, onde reside, nem sequer o nome direito eu sei. Talvez seja algum que começa com a letra "S"; Sônia, Silvia, Sabrina. Não sei. Mas ela é pirada. Piradinha!

Na primeira vez que fui visitá-la em um falso endereço, creio eu, tudo era um tanto diferente do que eu imaginava. A sala não era absolutamente escura e não havia apenas um divã que me obrigaria a ficar de costas para essa senhora logo que eu me acomodasse. Tem um decoração típica de algum lugar que não é este que estou, uma temperatura baixa causada pelo ar condicionado, paredes que se contrastam deixando confortável o recinto. Além disso, ainda há uma poltrona giratória no centro da sala e em volta há três tipos de sofá; cadeira-sofá, sofá de dois lugares e, é claro, um divã. Escolhi o de dois lugares e logo me apoderei do canto direito e lá me afundei. "Sra. S" foi para o seu lugar, a tal poltrona no centro e ficou a me observar e apenas uma pergunta, que deu sequência à outra, surgiu: "E aí? Como é que estão as coisas?" O que será que ela exatamente esperava que eu dissesse? Talvez tudo, porque foi isso o que ela conseguiu tirar de mim: tudo. Por alguma razão os seus poucos movimentos de balançar a cabeça positivamente e escrever algo em uma folha de papel que estava apoiada sobre uma prancheta me deram confiança e lá me encontrei. Tagarelando. Sem parar um segundo, sendo necessário, às vezes, até umedecer os lábios com a língua. Eu fui sincera em cada passagem da minha vida que contei e à medida que minhas palavras eram soltas, sua folha de papel foi virada para verso. Me perdi algumas vezes tentando adivinhar que diacho aquela senhora (apenas respeitosamente chamando, porque é um tanto nova) tanto escrevia. E então, ela decidiu interromper; "Irei dizer o que acho que está acontecendo com você. Depois me diz se chutei muito longe.", foi o que ela disse.Fitei seus olhos e tentei encontrar o fundo de tanta paciência e sabedoria. Naquele momento eu ouvia uma mulher, que até então nunca tinha visto na vida, falar verdades que eu nunca havia revelado. Verdades extremas e mais íntimas. Eu ri. Eu ri de desespero por seu chute não ter sido longe, mas sim certeiro -absolutamente, e ela acompanhou com um sorriso afirmativo. A maneira como interpretava o que durante a uma hora escreveu me assustava e me fazia pensar se aquilo era perigoso. Me fez pensar se confio tão rapidamente assim para dizer tanto sobre mim à um desconhecido. Me fez pensar, simplesmente, sem pressa.

Sra. S é pirada. Piradinha!