dezembro 31, 2011

Para 2012 e além.


Uso óculos e nem por isso sou nerd.
Tenho alargador e isso não faz de mim uma índia.
Ouço rap e não sou marginal.
Ouço rock também e nem por isso sou "sem estilo definido".
Respeito os ateus e isso não me torna menos cristã.
Respeito os homossexuais e nem por isso sou uma.
Tenho fé e nem por isso sou santa.
Leio sobre política, economia e afins, mas não sou cult.
Falo sobre tudo, mas não sou pseudo-cult.
Malho, faço dieta e surto com ponta dupla, e isso não quer dizer que sou fútil.
Nunca namorei, mas não sou mal amada.
Tenho dezessete anos, mas não sou criança.
Não uso drogas e nem por isso sou careta.
Não gosto de baladas, mas não sou antiquada.
Respeito e amo o meio ambiente, mas não sou ambientalista.
Amo os animais e não sou vegetariana, e isso não faz de mim uma hipócrita.
Sou loira e nem por isso sou burra.
Não passei de primeira no vestibular e isso não faz de mim uma incapaz.
Tenho o hábito de escrever e não sou poeta.

Respeito a todos e exijo respeito, por isso luto por um ano novo sem rótulos. Por um mundo sem rótulos!

Feliz 2012. Muita paz, muita luz, muito amor e muita vida!

"O importante é ser você, mesmo que seja estranho,

Seja você, mesmo que seja bizarro"

dezembro 04, 2011

Estou aqui.


Pela primeira vez estou no topo; no topo da minha lista de preferências, de prioridades. Coloquei-me ali para ver se, quem sabe, de um novo ponto de vista as coisas acontecem -com mais sinceridade, intensidade e realidade. De um jeito bem egoísta mesmo, não me importo!

Deixei todos para trás, mas não os ignoro -é importante deixar claro-, apenas resolvi ir atrás dos meus sorrisos e das minhas próprias experiências. Aliás, apenas percebi, "antes tarde que mais tarde", que se não sou por mim, ninguém mais será.

Cheguei, posicionei, aconcheguei, me instalei e gostei! Gostei e pretendo ficar. Demorei tanto para tomar coragem, pensei tanto, refleti tanto que, depois de tudo, acho até muito mais que merecido eu estar, enfim, no meu devido lugar.

novembro 28, 2011

Aqui Co'lá.


Uma dose de Tequila.
Uma dose de Cachaça,
por favor!
Uma dose de Alegria,
Uma Mão pra me guiar,
por favor.
Um Abraço no meio da noite,
Uma noite de Fantasia,
meu senhor.
Um Beijo bem caprichado,
meu amor,
Vamos, dê-me
Uma dose de Sossego,
por favor.

outubro 20, 2011

Atentem-se!


Eu tenho algo a dizer.
Por favor, me ouçam,
pois tenho algo a dizer!

Informo-lhes que
a inveja mata, meus caros,
e o orgulho...
Ah, o orgulho!

O orgulho impede de ser feliz.

outubro 17, 2011

A verdade de mentira.


Estatura mediana, cabelo negro e baixo, pele clara manchada e uma diferente estrutura corporal oval. Estranho, mas assim mesmo era Edmundo. Uma boca que raramente estava fechada, voz em alto tom que negava a inteligência que corria em suas veias e ressaltava a ignorância que queimava em seus olhos - tornava-a perceptível. Garoto que passava pela fase de fazer importantes decisões sobre sua vida, sempre com um sorriso no rosto, mas que pouco sabia lidar com suas falhas que ora ou outra cometia. Falhas estas que grande parte das vezes eram ocasionadas pela pressa de ser superior diante e que os outros. Sua verdade era absoluta, e mais do que isso: era mentirosa.
Apesar de toda a alegria que causava aos que o circundavam, Edmundo mantinha-se, em segredo, frágil a qualquer erro que pudesse fazer parte de seus atos. Suas discussões eram baseadas em suas inseguranças consigo mesmo, em seu complexo de superioridade que havia sido alimentado por toda a vida e em sua falta de estima - como quem repete inúmeras vezes em boa tonalidade de voz o quanto é bom, tentando, em fim, convencer a si próprio de que é provido de determinadas qualidades.
Edmundo não era(é) de fácil convívio, uma vez que justificativas eram mais notárias em seu dia-a-dia que efetivas tentativas de mudanças. Errava sempre ao negar que era necessário fazer alteração com medo de errar uma só vez ao ir em busca do correto e humilde. O que outrora era compreensivo, ao levar em consideração sua autenticidade, passou a ser cansativo pela sua pseudo-perfeição.
Com a verdade de Edmundo, nem ele mesmo podia.

"As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras."
(Friedrich Nietzsche)

setembro 06, 2011

Sejamos um.


Quando mais novos, ao se estudar sistema nervoso aprendemos que o ser humano possui a maior complexidade por ser provido de raciocínio lógico, noções de posição, espaço e precisão. Com o passar do tempo, no entanto, é possível notar a digressão de tal característica.
De geração em geração, novos costumes e hábitos se fazem presentes, novos conceitos e estereótipos são formados e mais se torna visível o choque entre os atuais e os antigos e, surpreendentemente, dos atuais com aqueles que ainda estão formando princípios. Indubitavelmente, a mídia, como um todo, tem uma grande participação nessas batalhas que são travadas na sociedade no dia-a-dia. Todavia, é necessário perguntar-se a razão para tamanha intolerância com aquilo que é diferente e que não condiz com os valores pessoais de cada um.
Atualmente é absolutamente notário o instinto de busca pela igualdade entre os sexos, por exemplo, o que faz imaginar que adiante há uma grande evolução. Porém, pode-se ao mesmo tempo perceber que esta mesma racionalidade que leva à semelhança também leva à grotesca ação selvagem e animalesca vindo de um ser humano baseado apenas nas diferenças; Fazendo com que não seja mais raro presenciar cenas de violência verbal ou física, ou ambos, por razões de mera incompatibilidade ideológica. Tamanha agressão psicológica que faz ligação direta com a exclusão sustentada pelo preconceito - este que está em crescimento.
A perca de características exclusivamente humanas torna precisa a discussão a respeito daquilo que é posto como "normal", para que, assim, padrões caiam e a aceitação seja tão parte da realidade quanto é a diversidade.

julho 27, 2011

É que por baixo dessa única ferida que você vê,

há inúmeras outras que ainda não cicatrizaram.

Sangue sobre sangue,

decepção sobre decepção.

Permita-me dizer que

por trás do mais belo sorriso,

há o mais doloroso passado.

Descobri e aprendi, enfim,

que ser forte não é esquecer e superar,

e sim saber sorrir

quando tudo só te faz querer chorar.

julho 25, 2011

Mente.


Entre os dedos
aquilo que alivia
sua mente
e mente.
Na fumaça
seus sonhos sumindo
fundindo com o ar.
No coração acelerado
o amor pede pra que pare,
mas não é capaz.
Sua vida é "baseado"
naquilo que mexe com sua mente
e mente.
Os dedos queimados
são reflexos dos olhos dilatados.
Seu semblante não mente:
Sua vida é "baseado"
no hábito de um viciado.

junho 17, 2011

(des)Apego.


O problema começa quando se percebe que está sozinho por ter cultivado fantasmas dentro da própria vida, por ter confiado que eles são reais; começa quando é possível notar que não existirá um abraço quando o mundo estiver caindo, que não poderá ter com quem se refugiar quando as piores horas chegarem, que sempre estará sozinho independente do que digam, do que dizem sentir. Imagens não existem, vozes também não, está tudo na imaginação. Absolutamente nada passou - não passa e provavelmente não passará - de uma mera e limitada ilusão.

Assim como as pessoas, os fantasmas também mentem; mentem e te derrubam e somem, desaparecem sem deixar rastros. Afinal, são apenas imaginações. Todas aquelas palavras, portanto, vão embora junto, fazendo com que tudo fique como se nunca houvesse existido uma história. E isso acontece uma, duas, três, várias vezes e quase sempre sem intervalos para descansos.

Com isso, passa a existir uma obrigação: se acostumar com o ritmo de decepções. Há os que conseguem, com muito ou pouco custo, libertar-se dessa tentativa de torna-se completo, e há outros que tornaram-se dependentes desses fantamas; são aqueles que continuam a acreditar nas poucas chances de algo ser real, do outro lado também haver um coração, e não apenas uma "mente" que forma palavras e as derrama passando o tempo.

No entanto, ao mesmo tempo em que se sente completo, sente-se vazio; os sentimentos passam a ser tão reais que são capazes de acelerar o coração ou fazê-lo parar de bater, os pensamentos são ocupados com planos de possíveis realizações, e as noites passam a serem dedicadas a sonhos com os fantasmas que, querendo ou não, não deveriam estar em sua vida.

Respirando palavras e utopia, nota-se que o sentimento ao mesmo tempo que é tudo, é nada.

"E vivia de 'como se', pois era como se tivesse força, mas não tinha. (...)"

junho 07, 2011

"Falso patriotismo".




Tanto como indivíduo quanto como país, fazer-se ser inferior torna a inferioridade uma verdade unânime. As características de um povo são pontos de partida para criação de marcas que acabam gerando anseio de mudança e tentativas de alcançar culturas que não o pertence.


O povo brasileiro tem o hábito de rejeitar suas naturezas e de vendar os olhos para não enxergar que até mesmo as mais civilizadas nações tem seus lados desagradáveis (para um ou para outro) em suas culturas; tais lados que se transformam em atrações turíticas, como, por exemplo, a legalidade do uso de drogas em Amsterdã.


As comparações fazem e sempre farão com que os defeitos sobressaim diante os outros, levando aqueles que se destacam, como consequência, a serem alvos em comum de piadas e discriminação.



Melhor não seria adotar a cultura nativa e fazer dela um motivo de orgulho?

maio 10, 2011

V.





A vingança nasce do desejo de justiça, seja esta de qual espécie for. O sentimento de derrota e inferiorização faz com que o sangue ferva e tire a racionalidade do lugar para dar espaço para o efeito "o mundo dá voltas".

Após o ataque do dia 11 de Setembro de 2001 na cidade de Nova York, o sentimento daqueles que perderam seus entes queridos tranformou-se em vontade de ver morte do causador de tal transtorno. Dez anos se passaram, e a comemoração pela execução do líder terrorista, Osama Bin Laden, deixou explícito a obcessão guardada dentro dos norte-americanos.

Vale lembrar, porém, que a perda para morte é igual em qualquer região do Planeta, e assim como o mundo se silenciou no dia 11 de Setembro por respeito, humanidade e igualdade, todos, agora, deveriam se calar por um instante.

"As palavras machucam, mas o silêncio é a real tortura."




*Escrito em parceria com Renan H. Carvalho.

abril 16, 2011

Monólogo.


Bom, faz um tempo que converso com alguém por Email e que me fez algumas perguntas que, se lhes importam ou não, postarei porque acho que são válidas e têm sentido já que pouco sobre mim tem aqui.


- Seus textos são descrições de experiências suas? -

Nem todos. Alguns não passam de uma loucura momentânea, outros são anseios, outros sonhos que tive, outros realmente aconteceram, outros são meio a meio e etc. Acredito que a maior graça seja manter esse “enigma” de realidade ou não. Gosto de não identificá-los. Durante certo tempo usei o pseudônimo Antonietta, que logo abandonei justamente por já deixar certa marca de acontecimento.


- A maioria das coisas que escreve tem um ar melancólico. É de propósito? -

Não. Nada proposital. Escrevo sempre quando estou com sentimentos acumulados, e os únicos sentimentos que acumulo são os “ruins” que não quero espalhar pelo mundo. Quando estou cem por cento vida não sinto vontade alguma de escrever já que posso somente sorrir.


- Por que não tem como comentar no seu Blog? -

Ver “0 comentários” me desanimaria, com certeza. Evito qualquer tipo de desânimo. Por isso.


- Seu pessimismo é sua marca? -

Não tenho marca. Sou bastante realista com uma dose de pessimismo e outra de utopia.


- O que te faz escrever textos que abordam tema que envolva preconceito? -

Ah! Depende. Discussões em sala de aula, opiniões alheias que leio em comunidades do Orkut, reportagens...


- E por que toma esse partido de escrever a respeito? -

Acredito que sou de uma geração que as pessoas não pensam muito para falar. Já feri muita gente por fazer o mesmo e hoje tento mudar isto. Nunca sabemos quem nos ouve. Ao falar de homossexualidade, suicídio e coisas do gênero, a preocupação não tem que ser só com o que diz, mas também com como diz e para quem diz. Pode parecer clichê, mas é como penso... Não são todos que sabem expor a opinião sem ofender ou fazer do assunto uma piada/julgamento. Uso meus textos como uma forma de “resposta”, apesar de saber que são poucos os que lerão.


- O que mais te irrita pela internet? -

Sem dúvida alguma esses politicamente corretos que são, na realidade, seguidores de moda. Fico tomada por raiva quando noto que de repente todos viraram pessoas depressivas, homossexuais, sofredores, suicidas, apaixonados por francês e etc.. Fico realmente revoltada.


- Julga-se uma pessoa intensa? -

Às vezes sim, às vezes não.


- Parece ser bastante sentimentalista. É só impressão? -

Não! Embora eu tente muito agir pela razão, meu emocional sempre grita. Sou a favor do amor, da paz, a união, do carinho, do afeto, da raiva, dos sentimentos em geral. Adoro sentir que as pessoas agem por impulso, certas vezes, simplesmente por estarem seguindo seus corações. É um pouco mais de humanidade (mesmo tendo toda essa ladainha de racionalidade e tal).


- O que te falta para ser perfeita? -

Talvez tudo, talvez quase tudo. Minha perfeição, ou falta dela, vai dos olhos de quem me olha; de quem me enxerga. Sei que dentro de mim há sentimentos de sobra para dar, que na minha cabeça existem sonhos que poderiam te fazer rir ou me achar uma boboca. E por aí vai... Não gosto de pensar muito nisso.


- Os seres humanos parecem te preocupar. Preocupam? -

Já chegaram a ser um belo ponto de interrogação pra mim, até que me dei conta que também sou um. Hoje em dia me preocupo mais em passar no vestibular e alcançar meus objetivos.


- Quais seus objetivos? -

Não sei ao certo. Ultimamente tenho focado em um só: passar no vestibular. Sei que tenho outros, mas sempre acabo os esquecendo. Um erro, eu sei, mas enfim!


- Você já falou muito sobre desfazer amizades. Como é isso pra você? -

Hoje em dia já é quase normal, tanto é que chamo de “desfazer laços”. Tenho um defeito de só ter comigo pessoas que têm os mesmos tipos de comportamento/pensamento que eu. Gosto de me sentir fazendo parte de algo, ao contrário de sair discutindo por pontos certos e errados. Já tentei fazer diferente, mas não dura muito. As pessoas não têm paciência comigo e nem eu com elas, então evito decepções minhas e alheias.


- O que a foto do seu perfil quer dizer? -

Certa vez, faz pouquíssimo tempo, li algo sobre “Pessoas da alma”, achei bastante interessante e me identifiquei um bocado, dizia sobre não dar valor as coisas materiais e valorizar mais as coisas simples da vida, foi quando resolvi tirar essa foto e colocá-la aqui.


- Qual a sua maior frustração? -

Grande parte das vezes eu me vejo sozinha, em relação a amizades, o que me resulta uma vida pacata. E outra parte das vezes eu me sinto fora do contexto da minha realidade (ou da realidade das pessoas que têm a mesma idade que eu). Acho que só isso.


- Como você se descreve? -

Uma pessoa normal. Que resmunga, que sorri, que chora, que xinga, que fala palavrão quando ta nervosa, que tenta sempre ser melhor, que desanima e tudo mais.


- Uma frase, um texto, um trecho:

“Ela era tão jovem, tão solitária e ingênua, que se imaginava uma espécie de recipiente a ser preenchido de amor. Mas não era nada disso. O amor estivera dentro dela o tempo todo e só se renovava ao ser doado.” – O guardião de Memória.


- Qual a sua idade? -

Tenho 16 anos de idade. (Jun 04)

-


É isso só. Não sei se tem algum valor, mas achei interessante.

jovemescritora.luz@gmail.com

abril 08, 2011

Rio de Janeiro, Novembro 2010/Abril 2011.



Foram necessários tanques de guerra.

Parar os bandidos moveu o Brasil.

A cidade maravilhosa pedia socorro,

aclamava ajuda, gritava por ajuda!

Na rua o fogo tomava conta

e na floresta só se via correria,

até que um dia a paz surgiu.

Quem iria imaginar, porém,

que o terror tão cedo voltaria?

Dessa vez, no entanto, mais cruel,

foi com crianças que seriam o futuro do Brasil.

Crianças estas que estavam estudando

dentro de uma escola, lugar onde deveria ter segurança.

A invasão foi feita pelo passado,

um ex aluno, um ex aluno atordoado.

Massacrou a sangue sangue frio

aqueles pequenos que seriam o futuro do Brasil.

Seus olhos, diante uma arma de fogo,

ainda deviam brilhar com esperança,

brilhar como o Sol, como a Lua,

acreditando que mal maior não poderia acontecer,

mas quem pode dizer

se o último que para esses brilhos olhou

foi o mesmo que os cessou?

Sem dó e nem piedade,

Matou parte do futuro do Brasil.

abril 02, 2011

Algemas de Sangue.


A criança cresceu
Ela deixou para trás os sonhos
Passou a viver a infeliz realidade
De alguém que não vê claridade
A luz no final do túnel inexiste
E só restaram migalhas do passado

Seus olhos a queimaram
Sua frieza a congelou
Em estado de confusão
A criança cresceu sozinha
Deixou de acreditar na humanidade
Passou a viver sem buscar algo bom

Se lembra dos tapas que deu?
Das marcas que deixou?
Você se lembra?
São essas suas algemas de sangue hoje
É o seu desespero, seu rosto distorcido
É a sua loucura, a sua loucura!

Aquela criança fechou os olhos
Se jogou na imensidão do mal estar
Não quis mais saber de companhia
E agora sobrevive nas beiras
Rastejando-se em busca de migalhas de um futuro
Um futuro menos sujo, menos sujo.

Sem duvidar,
Sem questionar,
Te culpando, te lembrando
Que essas suas algemas de sangue hoje
Te prendem aos tapas que você deu.

Se lembra dos tapas que deu?
Das marcas que deixou?
Você se lembra?
São essas suas algemas de sangue hoje
É o seu desespero, seu rosto distorcido
É a sua loucura, a sua loucura!

Agora você pede perdão
Como se pudesse apagar o que fez
Não vai adiantar
Não pode funcionar
A criança já desistiu de te ver em vida
Porque ela se lembra de todo aperto no coração

Você deve se lembrar
Você se lembra?
Suas algemas de sangue
São os tapas que você deu
As marcas que deixou.

março 27, 2011

Dia e noite.



Passo o tempo tentando encontrar o ponto de partida
O início da minha despedida.
Procuro nos vestígios da lembrança
O momento que decidi arriscar a minha vida
Mesmo sem um pingo de esperança.
Fiz contratos e aceitei condições como
“Seguro de saúde não incluso”,
Arranquei a armadura e fui agir por impulso.
De uma decida de escada
Fui parar em uma queda livre.
Não imaginei que estaria sozinha,
Onde assinei outra coisa era dita.
Salto duplo! Salto duplo!
Era isso o que eu queria.
Nas letras miúdas, portanto, estava o aviso:
Aventureiros de primeira viagem correm o maior risco.
A cabeça agora pesa e pede salvação,
E a única coisa que me resta, é voltar para a solidão.

março 01, 2011

De repente o ideal.



Olhos caramelados de um grande sonhador, lábios grossos que se fazem moldura de um sorriso intimidado e bruscamente desajeitado. Ombros largos, postura correta e braços convidativos. Rasteja os pés quando calçados com chinelos, pisa forte ao se sentir inferiorizado.

Olhos caramelados de um sonhador amedrontado, refém da sua insegurança que é exposta em cada palavra sussurrada no espaço de um abraço. Se mostra incrivelmente formado ao projetar seu futuro entre gargalhas inesperadas que, por sua vez, mostram a simples vontade de ser feliz.

Olhos caramelados de um sonhador que passam respeito mesmo quando o corpo vibra de desejo, que agradavelmente transmite confiança para que desabafos existam. Olhos caramelados de um sonhador que faz querer estar junto.

fevereiro 28, 2011

Cá entre nós.


"Onde tudo parece terminar, é onde tudo, na verdade, tende a dar continuidade."


Foi nesta conclusão que cheguei após ter me tornado vítima do preconceito. Sentir a maldade alheia raspar em minha pele é doloroso, e nada poder fazer para combater esse mal é pior ainda. Não é fácil; nem um pouco fácil, aliás! Ter meus direitos arrancados sem qualquer pudor por uma simples “anomalia” foi o ápice da minha transformação de humano para bicho que a sociedade me fez passar. E bicho, devo dizer, da pior espécie, para os olhos de muitos. Atos simples me foram proibidos ou terrivelmente postos em discussão. Abraçar, beijar, ter relação sexual, AMAR, tornou-se caso de polêmica. Meus desejos passaram a ser um risco para a sociedade, e mesmo com toda a informação escancarada, sou uma ameaça!


O fato é que há treze meses venho observando a sociedade humana, ou, como prefiro chamar, esta selva ingrata. Presenciei momentos nos quais pude perceber que as vítimas, em algum momento, também se tornam as agressoras. É um tipo de experimento para saber o prazer do fazer mal a alguém. Coisa que até então, eu nunca imaginei que seria possível. É um ciclo que nunca acaba e que me faz pensar que onde tudo parece terminar, é onde tudo, na verdade, tende a dar continuidade. Consegui notar que o senso comum fala mais alto que provas científicas, que estudos, que meios concretos.


Sou branco, tenho cabelos escuros, olhos castanhos, alta estatura, peso adequado, heterossexual, vinte e três anos. Meu nome era Renato Augusto, mas há treze meses se tornou “Soropositivo”. Prazer! Meu nome atual, como o antigo, só se torna conhecido quando necessário. Dizê-lo, no entanto, tem exigido muito mais coragem e autoconfiança. Sei que ao me apresentar, hoje, essa combinação de doze letras que formaram um nome, o qual meus pais não escolheram, tem muito mais significado. Tem sinônimos como “medo”, “doença”, “distância”, e, acredite quem quiser, “morte”. Antes de me aproximar, minha atitude inicial quase que obrigatória é passar informações sobre o vírus HIV e como pode ser transmitido, além de explicar que há como evitar tal acontecimento –a transmissão.


Sei que, sem querer, atualmente sou rotulado por ter em meu corpo um vírus que não pedi para que fizesse parte de mim. Acidentes acontecem e aprendi a estar disposto a superá-los, caso me ocorram. Continuo sendo o homem cuja carteira de identidade apresenta o nome Renato Augusto. E sei que tenho muito mais a agregar que somente um vírus.


Mas será que todos se lembrarão disso ao saberem da minha condição?


Com solidão,


Soropositivo.

fevereiro 26, 2011

Something has broken.


A cada amanhecer ouço um barulho,

Um som incômodo de vidros sendo triturados.

E o volume fica cada vez mais alto.


No espelho, vejo que o reflexo se faz presente em meus olhos,

Enxergo os hormônios explodirem,

O sangue correr.

Meus joelhos se batem, se esfolam.

Minha mente perturba, lembra e relembra os sonhos

De alguém que um dia foi criança;

Alguém que esconde essa criança.


Na rua, posso ver alegria, paixão, carícias intermináveis,

Na vida daqueles que me cercam,

E que não conheço, no entanto.


Observações e anotações não faltam,

Por baixo de toda essa pele que me cobre,

Há palavras.

Palavras estas que, quando juntas, descrevem cada dia

Cada ferida que esses vidros rompidos fizeram;

Palavras que não me permitem esquecer os sonhos que se perderam.


Sinto que falta gente, falta humano, falta ser.

fevereiro 13, 2011

Pare e pense.


Seria muito bom se todos os relacionamentos que temos fossem frutos de expectativas determinadas. Se, por exemplo, no primeiro encontro de um casal ambos fossem com uma enorme placa pendurada no pescoço onde dissesse a real intenção; "Quero carinho.", "Só conversar.", "Estou pronto(a) para casar.", ou até mesmo "Apenas sexo!". Assim ninguém criaria expectativa alguma, ninguém teria que inventar desculpas para pôr um fim e nenhum lado sairia entristecido pela incompatibilidade. É claro que para isso acontecer, seria necessário contar com a sinceridade do outrem. Dá para contar com essa habilidade, hoje em dia?

Por que há tanta expectativa em volta de uma vida, de uma novidade? Por que falta sinceridade em todos os lugares? Que medo é esse de falar a verdade? De onde surgiu? Quando surgiu?
Perguntas, apenas perguntas. Perguntas sem respostas fundamentadas.

O fato é que a sociedade vem ensinando, em uma ótima performance, a mascarar as ideias e os sentimentos. Tem trazido no dia-a-dia sensações de abandono interior e pouco caso para laços que poderiam ser criados. De um jeito escancarado, e algumas vezes sutil, tem feito dos seres humanos pequenos brinquedos que ela mesma trata de manipular. Acaba, por fim, tendo em mãos o controle da razão e da emoção, restando-nos atos amedrontados e duvidosos. Há aqueles que se adaptaram rapidamente e não se importam com a maneira como o mundo vem girando, no entanto, do outro lado existe ainda um grupo perdido tentando encontrar o caminho de volta. Este grupo, devo dizer, nada mais é senão daqueles que ainda sentem e que, por sentirem, estão sentindo seus poderes humanos serem arrancados sem qualquer permissão. É doloroso o processo, pois vem em cada ato de coragem de tomar uma atitude que a pouca esperança restante se quebra, é quando a tão faltosa sinceridade se questiona se deve mesmo existir. E neste exato momento é que alguns desistem de lutar. Não são fracos, não são covardes. Estão apenas cansados.

O modo como as pessoas vem agindo é absolutamente questionável, e cada dia que passa é mais visível como tantos já desistiram. Está se tornando a unica saída, e isso nos leva a cair em uma fase de adaptação a infelicidade nossa e de futuras gerações. Estamos sendo programados a não falar, não ouvir, não tocar e não sentir. Qual a razão? A realidade logo não existirá mais. Criar expectativas é um erro, porque a chance de se decepcionar é igual a de ser surpreendido positivamente, mas como não criá-las se apenas está sobrando a imaginação de felicidade?

janeiro 30, 2011

Os tais clicks.


Em um click, se faz nova amizade.
Em outro click, perde todas as outras.

Em um click, é possível encontrar um amor.
Em outro click, pode não tê-lo mais.

Em um click, se aproxima do distante.
Em outro click, se distancia do próximo.

Um click capacita para novos pontos de vista.
Outro click tira a visão.

Em um click, há novos contatos profissionais.
Em outro click, a imagem está manchada.

Em um click, tudo passa a ser mais acessível.
Em outro click, nada mais existe.

Em um click, o silêncio acalma.
Em outro click, o mesmo passa a ensurdecer.

Um click transforma o humano.
Outro click o faz sumir.

Em um click, um novo vocabulário é formado.
Em outro click, ele não é mais necessário.

Em um click, se adentra em um novo mundo.
E nesse mesmo click, não se faz mais parte do real.

janeiro 29, 2011

Só nós.


Eu me perco no tempo, eu perco a noção do tempo tentando te encontrar em cada passo que dou, em cada esquina que vou. Pode parecer bobagem, clichê, falsidade ou loucura eu dizer isto agora, mas é como se em alguns segundos a vontade de sonhar me batesse na porta e me anestesiasse com sua imagem e suas palavras e nada mais e nada menos.

Está chovendo lá fora, e aqui dentro o calor me aperta o coração, me assombra a mente e faz meu sangue correr e queimar cada centímetro das minhas veias... E ainda assim, preferiria o seu calor ou o seu gelado. Eu preferiria você; eu e você.

Agarrada a uma almofada qualquer ou até mesmo ao aparelho celular eu procuro me lembrar da sua voz, procuro acalmar meu acelerado coração imaginando-te dizer que me quer, que me espera, que me ama.

janeiro 28, 2011

I'm very happy about it.


Seus olhos me encontraram;
Já era hora de me enxergar.
Seus braços me laçaram,
Seu peito me aqueceu,
Sua respiração me deu choques na ponta dos dedos;
Estava pronto para me salvar.
Suas mãos me puxaram para mais perto,
Seus lábios me pediam para que fossem beijados;
E eu poderia fazê-lo todo o dia
Esperando te fazer gostar.

Você chegou e trouxe motivos para que eu sorrisse,
Razões para que eu acreditasse,
Felicidade que me faltava.

“Virava pra lá e pra cá na cama. Estava impaciente… Até me sentei no escuro. Pensei: Não era uma posição o que eu procurava. Era você.” - Caio Fernando Abreu.