novembro 30, 2010

Nas entrelinhas.


Eu gosto de mentir. Gosto de mentir para mim, para os outros, para qualquer um que se interesse pelas palavras que falo ou escrevo. Não são muitas e nem sempre tenho alguém para quem dirigi-las, mas na primeira oportunidade lá estou eu testando a ingenuidade alheia; a capacidade de duvidar e confiar. Confesso que realmente desgosto desses indivíduos que se acham no direito de me encherem de questões que pouco lhe dizem respeito, e são eles que me provocam, eles que criaram e sustentam essa mentirosa que sempre toma o poder e sai domando um canto aqui, outro canto ali, eu por inteira.

Não me culpe!

Por vezes hesitei e cogitei a possibilidade de falar algumas verdades, em fim, no entanto, rendo-me à deliciosa sensação de estar no controle da história. Não pense você que estou em todas as circunstâncias emocionalmente e até fisicamente em equilíbrio… Como já disse, eu (apenas) gosto de mentir.

Agora, peço-lhe um favor: Confie em mim. Estou falando a verdade.

novembro 08, 2010

Eu e Ele - Desconhecidos.


- Como consegue ser tão indiferente, uh?
- Como assim?
- Oras! Você vê as coisas acontecendo ao seu redor, você vê as pessoas te olhando, e mesmo assim continua aí absolutamente sozinho sem pouco se importar com nada. Não precisa de alguém?
- Não.
- Como não?
- Por que não?
- Uai!
- Aprendi a não depender dos outros para estar bem. Quem depende é fraco.
- Sou fraca.
- Você se apega.
- Logo, sou fraca.
- Não. Você se apega.
- Qual a diferença?
- Você se apega à sensação de estar rodeada por pessoas que, para você, são anjos que entraram na sua vida para de alguma forma te salvarem. Mas não depende, pelo o que me disseram, sabe lidar bem com seu interior quando perde um laço.
- Finjo que sei lidar bem. E alguns são anjos sim.
- E por que está sozinha?
- Foram embora.
- No meu conhecimento, anjos nunca abandonam alguém. Não fazem sofrer, não criam esperanças, não mentem, não confundem a mente.
- Eu entendi.
- Não entendeu, eu sei que não entendeu.
- Como pode ter certeza?
- Diferente de muitos que analiso quando estão com você, vejo em seus olhos.
- Talvez eu tenha aprendido a manipular as pessoas com o meu olhar, já pensou nisso?
- Sinceramente? Não.
- Então...
- Olha, sei que existem pessoas que sabem falsificar um olhar, mas posso ver no seu que não está mentindo.
- E como aprendeu a diferenciar?
- Treinando o meu.
- Está me enganando com seus olhos?
- Com você não.
- Por quê?
- Eu posso ser tudo, mas não piso em quem já foi derrubado.
- É notório?
- Você faz ser.
- Por exemplo?
- Você recorreu a mim.
- É porque disseram...
- Eu sei o que disseram e fico feliz por isso.
- Acha que ainda há tempo?
- Com certeza, embora as decepções batam de frente quase totalidade do tempo, sempre há tempo.
- Eu espero.
- Pode ter certeza, posso sentir a sua força.
- Está massageando meu ego.
- Está funcionando?
- Talvez.
- Nos daremos bem, então.
- Meu limite anual de decepção já foi ultrapassado.
- Se você soubesse o quanto decepciona essa sua insegurança...
- Conseqüência do que me foi causado. Simples.
- Passe por cima.
- Não é tão fácil, menino. Aproveite que está olhando em meus olhos e veja o vazio dentro de mim. Olha bem! E não me peça para confiar nas pessoas quando não confio nem em mim mesma.
- Ok, você venceu desta vez.

Carta Resposta.


Primeira carta: Trata-se de uma moça, Roberta, que escreve para sua mãe sobre a gravidez que não havia sido planejada por ela e o namorado. Relatava o anseio de abortar devido a não aceitação do namorado, Fernando, diante da situação, usando como apoio a falta de forças para ter um filho de alguém que a deixou sozinha em tal circunstância. (Feito por Paula)

Resposta:

Minha querida filha Roberta, preciso confessar-lhe que à medida que meus olhos rolavam por suas palavras, eles fizeram com que as gotas de lágrimas saíssem e me umedecessem a face. Por quê? Vou lhe contar.

Quando mais nova, nos meus dezenove anos, não havia algo que me fizesse pensar em casamento e filhos. Vivia cada dia como se fosse o meu último de vida, e isso, é claro, me trouxe inúmeras aventuras mal pensadas. Ficar fora de casa era melhor que encarar o melaço carinhoso dos meus pais. Por fim, engravidei. Meu mundo caiu. Afinal, o pai era alguém que eu definitivamente não admirava, e eu sabia que esse sentimento era recíproco. Pensei, como você, em abortar. Literalmente tirar de mim o fruto da minha irresponsabilidade. No entanto, o apoio de meus pais, seus avós, e o segredo mantido para que a outra parte, o pai, não descobrisse foi o que me fez desistir e querer encarar essa situação inesperada. Permiti o crescimento da criança dentro de mim, deixei de lado todas as minhas preocupações em relação ao meu físico, e então superei. E eis que você nasceu. Por favor, minha eterna princesinha, não pense que é apenas o resultado de uma aventura, pois nos nove meses de gestação você me fez provar o gosto do verdadeiro amor de mãe para filha e, talvez inocentemente e com toda a modéstia, de filha para mãe. Foi a cada chute seu e conversa silenciosa nossa que me fez acreditar que a decisão de não abortar havia sido a mais certa e inteligente.

Quanto ao Fernando, meu anjo, peço que tenha um pouco de paciência. Vocês se amam e é algo absolutamente visível. Sem querer defendê-lo, imagino o quão doloroso e difícil deve estar sendo para ele. Ele é homem, minha linda, e você sabe como homens lidam com esse tipo de surpresa, não é?! E caso ele realmente largue toda a plenitude que construíram até hoje por conta dessa vida que foi gerada, te imploro que repense e considere todas essas palavras que compõem esta carta que te escrevo.

Com amor, sua mãe Angélica.


PS: Quando descobri que estava grávida, também achei que não suportaria ter um filho de alguém que sequer gostava de mim. E veja onde estamos. Veja onde chegamos. Somos eu e você. Você, MINHA filha.

Presente!


Entre. Agora conte: quarta fileira da direita para a esquerda, quarta carteira da frente para trás. Aqui estou. Pode me ver? Sem problemas caso a resposta seja "não"; na realidade, é o esperado. Juro! Não é que eu estou me escondendo com essa jaqueta relativamente enorme, trata-se mesmo é de um efeito reflexivo que meu ser em si causa. Funciona mais ou menos assim: os olhares me encontram, me vêem, mas logo são refletidos para qualquer outra direção - o que não permite que eu seja enxergada, o que tira de mim toda a coloração existente no meu corpo, transformando-me em uma perfeita amostra de invisibilidade.

Seja lá qual for o motivo para esse fato, me sinto incomodada. Me incomoda saber que se meus aliados não estão presentes, torno-me um nada. Me congela o peito ter conhecimento de que ainda me afeta, mesmo que secretamente, a ausência deles. E eis que reaparece o "eu-nada" por aqui; minha vida segue, erroneamente, de acordo com o estado de espírito alheio, como se eu somente fosse capaz de lutar pela minha coloração com alguém do meu lado - mesmo que este em silêncio.

Os ponteiros do relógio correm, as aulas começam e terminam, o sinal bate diversas vezes, ouve-se alguns "Bom dia!", correria com conteúdo escolar e nenhum desses aliados adentram a sala de aula. E então, surge a comprovação e preparação para o provável futuro que está cada vez mais perto. Sinto cócegas nos olhos, as lágrimas pedem para sair, mas não permito.
Mesmo enfraquecida é necessário encarar: eu, em fim, não estou aqui.
(Antonietta)