dezembro 20, 2010

De volta ao lar.


Não posso dizer que ter sido uma peça fora do tabuleiro somente me tenha feito mal. Porque embora eu estivesse em uma "missão" de quase auto destruição, o ato de refletir se fez mais acessível nos dias que eu, aparentemente, estava sozinha. Eu havia me fechado no meu mundo, havia me programado a recusar qualquer tipo de novidade que pudesse me tirar da zona de conforto. Não me fez totalmente bem, mas sei que cresci muito por ter aprendido a lidar com minha loucura.

Agora, estar em família e me sentir bem é uma coisa nova para mim. Quero dizer, é algo que a muito tempo eu não tinha. Depois de tantos meses, quando me olho no espelho, hoje, para pensar nos meus dias, sinto-me estranha ao notar que voltei ao jogo. Voltei para o baralho. Não está sendo fácil me controlar por um medo de machucar quem me ouve, mas tem sido prazeroso ver os resultados e ter pessoas ao meu lado para presenciá-los também. O que antes tanto parecia confuso e absolutamente recusável, voltou a ser a estrutura básica. O apoio que eu não tinha, a cada dia mais, tem sido exposto. A confiança está voltando para o lugar. O respeito e o carinho, de mãos dadas, estão cada vez mais presentes. O medo de ser punida e não compreendida tornou-se um medo de perder aqueles que, querendo ou não, notando ou não, sempre estiveram ao meu lado.

Estou podendo ser eu mesma. Estou me sentindo viva!

dezembro 18, 2010

Algum tipo de desabafo.


Criança. Menina. Mulher. Dezesseis anos.

Passei maior parte dos meus dias buscando dar alegria àqueles que cruzavam meu caminho, fugindo de uma convivência particular comigo mesma e mais ninguém. Sorrisos alheios eram os meus sorrisos, assim como as lágrimas, aos poucos, também se tornaram as minhas. Meus motivos viraram insetos em uma sala escura; minha motivação tinha um nome só que eu me recusava a mudar: os outros. O medo me segurou dentro de uma jaula que eu mesma fiz questão de soldar, minha proteção era a armadura que eu vestia para enfrentar a guerra de não ser eu.

Por diferenças no modo de lidar com as situações, eu desfiz amizades como quem desamarra um laço, abri mão do maior bem da humanidade e tive que aprender a fechar os olhos e me entregar mesmo que desconfiada. Novamente, fugindo da convivência "eu-eu". Todos os pronomes, no meu mundo, foram mudados de posição, e aquele que deveria ser o primeiro, tornou-se o último. Sem receio, vivi assim por muito tempo. De olhos fechados. Me apaixonei por pessoas que nunca vi, acreditei em olhos terrivelmente fantasmas, e me doei ao coleguismo que muito me era conveniente.

Achava que tudo estava bem. Afinal, ninguém nunca soubera dos meus problemas e dos meus verdadeiros sentimentos. A simpatia falsificada e já bem treinada enganava qualquer par de olhos e um coração que aparecia. (E ainda engana!) Acreditava sem dó na ingenuidade do ser humano, e cuidava para que a minha permanecesse bem escondida. Jurava para mim mesma que lidar com os outros, com a vida dos outros, era melhor que ter de encarar a minha realidade frente ao espelho. Me enganei profundamente. A criança, menina, mulher, então se viu sentada, em vez de frente ao espelho, frente à um profissional da saúde mental. Os anseios, os medos, as rivalidades, as decepções, os arrependimentos, as lembranças e as marcas foram postas e expostas claramente.

A prioridade, enfim, foi invertida e meus sonhos se posicionaram no devido lugar; o primeiro lugar! E o aprendizado contínuo de viver comigo mesma me mostrou que sozinha posso mais que acompanhada. Sozinha e determinada tenho a força do mundo.

A busca maior, hoje, é para mim e comigo.

dezembro 03, 2010

Surtando em palavras.



Não sei quem é essa mulher. Não sei a idade, o estado civil, onde reside, nem sequer o nome direito eu sei. Talvez seja algum que começa com a letra "S"; Sônia, Silvia, Sabrina. Não sei. Mas ela é pirada. Piradinha!

Na primeira vez que fui visitá-la em um falso endereço, creio eu, tudo era um tanto diferente do que eu imaginava. A sala não era absolutamente escura e não havia apenas um divã que me obrigaria a ficar de costas para essa senhora logo que eu me acomodasse. Tem um decoração típica de algum lugar que não é este que estou, uma temperatura baixa causada pelo ar condicionado, paredes que se contrastam deixando confortável o recinto. Além disso, ainda há uma poltrona giratória no centro da sala e em volta há três tipos de sofá; cadeira-sofá, sofá de dois lugares e, é claro, um divã. Escolhi o de dois lugares e logo me apoderei do canto direito e lá me afundei. "Sra. S" foi para o seu lugar, a tal poltrona no centro e ficou a me observar e apenas uma pergunta, que deu sequência à outra, surgiu: "E aí? Como é que estão as coisas?" O que será que ela exatamente esperava que eu dissesse? Talvez tudo, porque foi isso o que ela conseguiu tirar de mim: tudo. Por alguma razão os seus poucos movimentos de balançar a cabeça positivamente e escrever algo em uma folha de papel que estava apoiada sobre uma prancheta me deram confiança e lá me encontrei. Tagarelando. Sem parar um segundo, sendo necessário, às vezes, até umedecer os lábios com a língua. Eu fui sincera em cada passagem da minha vida que contei e à medida que minhas palavras eram soltas, sua folha de papel foi virada para verso. Me perdi algumas vezes tentando adivinhar que diacho aquela senhora (apenas respeitosamente chamando, porque é um tanto nova) tanto escrevia. E então, ela decidiu interromper; "Irei dizer o que acho que está acontecendo com você. Depois me diz se chutei muito longe.", foi o que ela disse.Fitei seus olhos e tentei encontrar o fundo de tanta paciência e sabedoria. Naquele momento eu ouvia uma mulher, que até então nunca tinha visto na vida, falar verdades que eu nunca havia revelado. Verdades extremas e mais íntimas. Eu ri. Eu ri de desespero por seu chute não ter sido longe, mas sim certeiro -absolutamente, e ela acompanhou com um sorriso afirmativo. A maneira como interpretava o que durante a uma hora escreveu me assustava e me fazia pensar se aquilo era perigoso. Me fez pensar se confio tão rapidamente assim para dizer tanto sobre mim à um desconhecido. Me fez pensar, simplesmente, sem pressa.

Sra. S é pirada. Piradinha!

novembro 30, 2010

Nas entrelinhas.


Eu gosto de mentir. Gosto de mentir para mim, para os outros, para qualquer um que se interesse pelas palavras que falo ou escrevo. Não são muitas e nem sempre tenho alguém para quem dirigi-las, mas na primeira oportunidade lá estou eu testando a ingenuidade alheia; a capacidade de duvidar e confiar. Confesso que realmente desgosto desses indivíduos que se acham no direito de me encherem de questões que pouco lhe dizem respeito, e são eles que me provocam, eles que criaram e sustentam essa mentirosa que sempre toma o poder e sai domando um canto aqui, outro canto ali, eu por inteira.

Não me culpe!

Por vezes hesitei e cogitei a possibilidade de falar algumas verdades, em fim, no entanto, rendo-me à deliciosa sensação de estar no controle da história. Não pense você que estou em todas as circunstâncias emocionalmente e até fisicamente em equilíbrio… Como já disse, eu (apenas) gosto de mentir.

Agora, peço-lhe um favor: Confie em mim. Estou falando a verdade.

novembro 08, 2010

Eu e Ele - Desconhecidos.


- Como consegue ser tão indiferente, uh?
- Como assim?
- Oras! Você vê as coisas acontecendo ao seu redor, você vê as pessoas te olhando, e mesmo assim continua aí absolutamente sozinho sem pouco se importar com nada. Não precisa de alguém?
- Não.
- Como não?
- Por que não?
- Uai!
- Aprendi a não depender dos outros para estar bem. Quem depende é fraco.
- Sou fraca.
- Você se apega.
- Logo, sou fraca.
- Não. Você se apega.
- Qual a diferença?
- Você se apega à sensação de estar rodeada por pessoas que, para você, são anjos que entraram na sua vida para de alguma forma te salvarem. Mas não depende, pelo o que me disseram, sabe lidar bem com seu interior quando perde um laço.
- Finjo que sei lidar bem. E alguns são anjos sim.
- E por que está sozinha?
- Foram embora.
- No meu conhecimento, anjos nunca abandonam alguém. Não fazem sofrer, não criam esperanças, não mentem, não confundem a mente.
- Eu entendi.
- Não entendeu, eu sei que não entendeu.
- Como pode ter certeza?
- Diferente de muitos que analiso quando estão com você, vejo em seus olhos.
- Talvez eu tenha aprendido a manipular as pessoas com o meu olhar, já pensou nisso?
- Sinceramente? Não.
- Então...
- Olha, sei que existem pessoas que sabem falsificar um olhar, mas posso ver no seu que não está mentindo.
- E como aprendeu a diferenciar?
- Treinando o meu.
- Está me enganando com seus olhos?
- Com você não.
- Por quê?
- Eu posso ser tudo, mas não piso em quem já foi derrubado.
- É notório?
- Você faz ser.
- Por exemplo?
- Você recorreu a mim.
- É porque disseram...
- Eu sei o que disseram e fico feliz por isso.
- Acha que ainda há tempo?
- Com certeza, embora as decepções batam de frente quase totalidade do tempo, sempre há tempo.
- Eu espero.
- Pode ter certeza, posso sentir a sua força.
- Está massageando meu ego.
- Está funcionando?
- Talvez.
- Nos daremos bem, então.
- Meu limite anual de decepção já foi ultrapassado.
- Se você soubesse o quanto decepciona essa sua insegurança...
- Conseqüência do que me foi causado. Simples.
- Passe por cima.
- Não é tão fácil, menino. Aproveite que está olhando em meus olhos e veja o vazio dentro de mim. Olha bem! E não me peça para confiar nas pessoas quando não confio nem em mim mesma.
- Ok, você venceu desta vez.

Carta Resposta.


Primeira carta: Trata-se de uma moça, Roberta, que escreve para sua mãe sobre a gravidez que não havia sido planejada por ela e o namorado. Relatava o anseio de abortar devido a não aceitação do namorado, Fernando, diante da situação, usando como apoio a falta de forças para ter um filho de alguém que a deixou sozinha em tal circunstância. (Feito por Paula)

Resposta:

Minha querida filha Roberta, preciso confessar-lhe que à medida que meus olhos rolavam por suas palavras, eles fizeram com que as gotas de lágrimas saíssem e me umedecessem a face. Por quê? Vou lhe contar.

Quando mais nova, nos meus dezenove anos, não havia algo que me fizesse pensar em casamento e filhos. Vivia cada dia como se fosse o meu último de vida, e isso, é claro, me trouxe inúmeras aventuras mal pensadas. Ficar fora de casa era melhor que encarar o melaço carinhoso dos meus pais. Por fim, engravidei. Meu mundo caiu. Afinal, o pai era alguém que eu definitivamente não admirava, e eu sabia que esse sentimento era recíproco. Pensei, como você, em abortar. Literalmente tirar de mim o fruto da minha irresponsabilidade. No entanto, o apoio de meus pais, seus avós, e o segredo mantido para que a outra parte, o pai, não descobrisse foi o que me fez desistir e querer encarar essa situação inesperada. Permiti o crescimento da criança dentro de mim, deixei de lado todas as minhas preocupações em relação ao meu físico, e então superei. E eis que você nasceu. Por favor, minha eterna princesinha, não pense que é apenas o resultado de uma aventura, pois nos nove meses de gestação você me fez provar o gosto do verdadeiro amor de mãe para filha e, talvez inocentemente e com toda a modéstia, de filha para mãe. Foi a cada chute seu e conversa silenciosa nossa que me fez acreditar que a decisão de não abortar havia sido a mais certa e inteligente.

Quanto ao Fernando, meu anjo, peço que tenha um pouco de paciência. Vocês se amam e é algo absolutamente visível. Sem querer defendê-lo, imagino o quão doloroso e difícil deve estar sendo para ele. Ele é homem, minha linda, e você sabe como homens lidam com esse tipo de surpresa, não é?! E caso ele realmente largue toda a plenitude que construíram até hoje por conta dessa vida que foi gerada, te imploro que repense e considere todas essas palavras que compõem esta carta que te escrevo.

Com amor, sua mãe Angélica.


PS: Quando descobri que estava grávida, também achei que não suportaria ter um filho de alguém que sequer gostava de mim. E veja onde estamos. Veja onde chegamos. Somos eu e você. Você, MINHA filha.

Presente!


Entre. Agora conte: quarta fileira da direita para a esquerda, quarta carteira da frente para trás. Aqui estou. Pode me ver? Sem problemas caso a resposta seja "não"; na realidade, é o esperado. Juro! Não é que eu estou me escondendo com essa jaqueta relativamente enorme, trata-se mesmo é de um efeito reflexivo que meu ser em si causa. Funciona mais ou menos assim: os olhares me encontram, me vêem, mas logo são refletidos para qualquer outra direção - o que não permite que eu seja enxergada, o que tira de mim toda a coloração existente no meu corpo, transformando-me em uma perfeita amostra de invisibilidade.

Seja lá qual for o motivo para esse fato, me sinto incomodada. Me incomoda saber que se meus aliados não estão presentes, torno-me um nada. Me congela o peito ter conhecimento de que ainda me afeta, mesmo que secretamente, a ausência deles. E eis que reaparece o "eu-nada" por aqui; minha vida segue, erroneamente, de acordo com o estado de espírito alheio, como se eu somente fosse capaz de lutar pela minha coloração com alguém do meu lado - mesmo que este em silêncio.

Os ponteiros do relógio correm, as aulas começam e terminam, o sinal bate diversas vezes, ouve-se alguns "Bom dia!", correria com conteúdo escolar e nenhum desses aliados adentram a sala de aula. E então, surge a comprovação e preparação para o provável futuro que está cada vez mais perto. Sinto cócegas nos olhos, as lágrimas pedem para sair, mas não permito.
Mesmo enfraquecida é necessário encarar: eu, em fim, não estou aqui.
(Antonietta)

outubro 04, 2010

famiLIES



Família é uma instituição, na qual se aprende as leis básicas de comportamento, principalmente. É uma união de membros que foram gerados justamente para constituí-la e para formar uma hierarquia; pai-filho. Dentro da qual lições de moralidade são diariamente impostas de inúmeras maneiras (o que acaba definindo a estrutura de tal junção). Diferenças notórias são apontadas de uma instituição para a outra, às vezes pelo lado bom, às vezes pelo ruim e às vezes de maneira equivocada. Não importa! O fato é que grande parte delas, senão totalidade, é firmada por pequenas mentiras que, quando vêm à tona, causam desconfianças.

Quando essa linha de "o mal para o bem," no entanto, passa a ser tão prejudicial àquilo que antes tinha como base, e sinônimo, a palavra "Confiança"?

O passar dos anos tem transformado os métodos de educação, mas, no entanto, aqueles que foram filhos e hoje são pais, são quase incapazes de se adequarem a esses meios (cada qual com sua razão). Encontram, então, como solução, educarem como foram educados; seguindo sempre um paradigma, se esquecendo das mudanças que ocorrem, inegavelmente, de década para década, de ano para ano; Fazendo com que as pequenas mentiras se tornem cada vez maiores, já que privam da liberdade de provar. O medo de seus erros serem novamente cometidos os levam a cometer o maior de todos: proibir. E o receio de, ao conversar sobre certos assuntos, como, por exemplo, sexo e drogas, despertar a curiosidade, desencadeia outras mais ocasiões problemáticas que põem em risco toda a instituição chamada Família.

A pressão mundial em ter que ter dinheiro para viver, desestruturou ridiculamente a base de tudo. E o que antes, como já citado, era fixado entre "Confiança" e derivados, hoje é relacionado à estresse, dívidas e etc. O trabalho tornou-se prioridade e, como consequência, a ausência de tempo para conversas entre os membros da união ficou em evidência. Tudo o que poderia e deveria ser discutido entre aqueles que pertencem à mesma junção, é levado para a rua; na teoria e na prática se aprende, muitas vezes errado, sem conselho e base alguma. Logo, o sentir-se bem vira adequado ao mundo que existe porta à fora, com desconhecidos ou em relacionamentos amistosos com data de validade.

Confiar, apoiar, entre outros, viraram apenas verbos entre quatro paredes.

outubro 02, 2010

A (RE)volta de uma vida.


Cansada, eu desisti de guerrear contra algo que sequer podia enxegar: o medo. O medo fez com que eu me sentisse incapaz de lidar com o caos que o mundo é, incapaz de não me apegar a tudo o que ele me trouxe de conforto. O medo não mata! Me destruí cada vez que me refugiei dos grandes obstáculos, cada vez que recusei uma ajuda de um desconhecido por estar acostumada a sentir medo, justamente. (...) Mas devo-lhes dizer, caros amigos, que tentei. Nos últimos dias que respirei, lutei contra o que me foi causado; comparei-me diariamente com todos os insetos que virei de ponta cabeça, e, surpreendentemente, me senti igual a eles: Fria e desesperada para voltar à batalha da sobrevivência. Diferentemente deles, no entanto, eu desisti.



Antonietta.

setembro 24, 2010

Aquática.

Oxigênio limitado.
Total controle em minhas mãos.
Lucidez suicida.
Meu corpo flutua na superfície da água,
Braços e pernas movimentam-se em sintonia
E fazem com que eu saia do lugar;
Sempre para frente, em um ritmo determinado por mim.
Por minha força e desejo.
O silêncio gritante, que me é proporcionado quando submersa, fascina.
O pouco que resta de ar é solto por entre os lábios,
E logo se transforma em pequenas bolhas que rapidamente ecoam.
Preciso respirar, mas não quero.
Pois sei que ao levantar a cabeça para fora,
Todo o exterior me invadirá com ruídos torturantes da minha realidade;
Serei retirada do sufoco delicioso de estar resistindo à ausência de livre 02.
Mas o faço o mais rápido possível e que consigo.
É obrigatório!
Logo volto ao meu estado imortal,
Movendo-me às custas do meu prazer,
Da minha paz.

setembro 09, 2010

Eu reconheço.


Gotas de lágrimas contornam meus lábios; umedecem-os.
O sabor peculiar invade minha boca deixando-a levemente salgada.
Inteiramente.
Como o gosto de soro, ao final posso sentir um sabor que desagrada.
Mas não na língua;
Sinto no peito. Sinto na mente.
Sensação de isolamento, mais uma vez.
Perdida, preciso de ajuda.

setembro 01, 2010

Heroína disfarçada.



Seus fios de cabelo com raízes esbranquiçadas, a pele clara com leves manchas, olhos fundos e olheiras, traços de cansaço representavam uma dura realidade. Com quase totalidade de sua idade dedicada ao trabalho, sua postura deixou de demonstrar força, e passou a representar o maltrato da vida. "Indefesa" é o adjetivo que passa pela mente ao cruzar o caminho dessa mulher. As palavras, que na maior parte do tempo são firmes em excesso, revelam o descontrole emocional que a abala -resultado, novamente, dos anos de trabalho. Sorrisos e risadas levemente envergonhadas deixam à mostra uma intimidade preservada e ingenuidade intacta de uma mulher formada que não teve infância. O olhar com o restante de um brilho ofuscado não passa despercebido; ali, uma guerreira é mantida em segredo. Armada com forças renovadas pela fé e protegida pelo peito que poucas vezes se vê estufado.



Moldada, julgada e judiada pela sociedade, "senhora" minha mãe mantém-se assim: preparada para qualquer guerra programada, ou inesperada. Uma heroína disfarçada.

julho 27, 2010

A mais antiga diversão do homem.



Raramente os que estão sentados nas cadeiras de um circo conseguem entender a verdadeira paixão pela arte circense. Porque apesar de todos os problemas que existem no particular de cada artista (incluindo todos os que participam da realização do espetáculo), quando a música começa, ninguém fica parado; ninguém pode ficar parado! Alimentam-se através da diversão e alegria alheia, e o eco da batida da palma das mãos é a única forma de reconhecer o trabalho que ali foi feito, o suor que foi dado. Muitos admiram e aplaudem os talentos que no centro do picadeiro são demonstrados, mas quase inexistentes são os que encarariam com tanta força o mundo paralelo e real que há por trás da cortina. A união de famílias distintas forma uma comunidade única de pura cumplicidade que a qualquer momento pode ser alterada. Uma empresa, um trabalho, a casa! Os trailers, os ônibus, as carretas. As plumas, os paetês, as malhas. Tudo faz parte de uma vida que junto carrega uma cultura. Uma cultura que anda por cada quilômetro do país que pertence pra levar a todos o pouco da magia que ainda resta ao humano, o pouco que ainda é permitido fantasiar.


"Desde a criação do mundo, o circo tem sido a mais antiga diversão do homem, criada com amor, suor e lágrimas. Que vem através dos tempos, deslumbrando grandes e pequenos, nobres e plebeus(...)".


*Post especial devido às férias que passei com parentes e amigos no Circo Rakmer. -Agradeço a todos que estiveram comigo nesses dias maravilhosos que passei na cidade de Brasília-DF, em especial minha família e B.
*Na foto: Brenda.

julho 07, 2010

Encontro.


- Só liguei para dizer-te que logo estarei aí. Falta pouco, alguns dias. Que bobagem, alguém já deve lhe ter contado. Eu te quero. Talvez demore um pouco para essas quase duzentas horas passarem, mas acredite, dessa vez não irei deixar ser em vão. Eu te quero. Faz tempo que não nos vemos, faz tempo que não nos falamos. Nossos pais vivem em contato, mas nós mesmos... Eu te quero. Estou sendo boba? Provavelmente, mas nem sei se devo me importar. Devo? Estive pensando... Eu te quero. Perdemos tantas oportunidades que nem nos demos conta. São três anos já e nada. Somos prometidos de romance e nunca sequer houve um esforço de nossa parte. Eu te quero. Não é mesmo? Isso é um tanto engraçado já que Eu... Bem, me liga de volta, quero ouvir tua voz.

Tu tu tu tu tu...

junho 15, 2010

Criatura divina.



Enquanto deliciava-se de algo semelhante a um pedaço qualquer de carne crua, encostado na quina do encontro entre duas paredes, com suas pernas bem encolhidas - como todo o corpo, deixava que o vento gelado do dia nublado movimentasse seus fios negros de cabelo. Aproximei-me agarrada nas mangas de minha blusa pouco fina.
- Será que eu posso?
Ele deu de ombros.
Deixei meu corpo cair no concreto pintado de cor branca e, de costas, escorreguei o corpo para o chão, ajeitando-me aos poucos ao lado daquele ser. Sua aparência perfeitamente assimétrica tinha total controle sobre meus olhos; era nada comum, diferente de tudo o que eu já havia visto. Repulsivo. Encantador! A paz que dava de apenas fitar aquelas imperfeições me trouxe dúvidas aparentemente sem respostas. Separei meus lábios, cheguei a pegar fôlego para bombardeá-lo com todas as minhas questões, mas logo juntei-os novamente envergonhada.
- Como ousa?
- Perdão?
- Não tem medo de mim?
- Por que o teria?
- Olhe bem! -Agarrou-se ao pedaço de carne crua como se estivesse aquecendo uma criança nua.
- Não entendi.
- Eu posso te fazer feliz. Eu posso te destruir, fazê-la erguer novamente. Sou capaz de te fazer guerrear consigo mesma, tenho o dom de trazer paz nos momentos mais absurdos. Sou poderoso, criança. Comigo você não vai conseguir fechar os olhos para dormir com medo de eu te deixar, ou até mesmo por que estará fazendo orações para que eu vá embora. Nunca mais terá tanta racionalidade, tomarei conta de tudo, comandarei cada passo e pensamento seu. Suas risadas serão somente as mais sinceras ao meu lado, e suas lágrimas se tornarão cada vez mais presentes por tudo o que trarei comigo. Sou um pacote!!
Seu tom baixo, sua voz inacreditavelmente doce chegava aos meus ouvidos como uma verdadeira e bem feita canção de ninar. Cerrei meus olhos, deixei que, como ele havia feito, o vento movimentasse meus fios de cabelo. Meus lábios sorriram sem o meu comando, senti meu coração palpitar silenciosamente no ritmo da tranqüilidade que acabava de se acomodar.
Saí do meu estado de êxtase. Voltei a fitá-lo com desejo. Encantou-me completamente. Segurou o pouco que restava de seu alimento com a mão mais distante de mim, e com a outra fez pressão sobre meu peito; sobre meu coração.
- É disso que eu me alimento!
- Tudo bem.
- Ainda assim não tem medo?
- Eu preciso da sua presença na minha vida. Preciso dessa insanidade. Minha vida só terá sentido quando não tiver sentido algum pela minha luta.
- Mas muito provavelmente irei feri-la.
- Você está pedindo licença para entrar na minha vida?
- Não! Nunca faço isso. Eu já sei que já estou no controle.
Senti um breve calafrio levantar meus pêlos cobertos pelo tecido grosso de minha blusa enquanto ele afastava sua mão do meu corpo.
- Posso ao menos saber o seu nome?
- Amor. Este é o meu nome: Amor!

junho 02, 2010

Cartas sem destino.


No meio de papéis descartáveis de uma das minhas gavetas, encontrei bolas de papel. Papel amassado, bem amassado. Abri cada uma e li as folhas amarrotadas que liberavam um aroma do meu perfume fundido com o cheiro de pó. Ali, naquelas linhas mal escritas, haviam descrições de encontros nossos, sonhos meus. As palavras se encontravam e traçavam um verdadeiro destino utópico que parecia estar perto de acontecer. Tal perfeição de detalhes que meus lábios chegavam a chorar, minha boca se enchia d'água com os gostos que livremente sentia.

Um desses papéis estava particularmente mais amarelado. Lendo-o, admirei-me ao notar o efeito da droga que cheguei a experimentar nos desejos ali escritos: você. Um estado de dependência absoluta, uma delícia de sensação que fazia um largo sorriso abrir em minha face. Tão brilhantes eram seus olhos, tão adorável sua pele, tão apaixonante o aperto dos seus braços no meu corpo.

Te senti comigo. Seus passos silenciosos circundavam meu corpo encolhido e ajoelhado no centro do quarto, suas mãos me aqueciam como fresta do Sol em dias de frio, sua voz, tão imaginativa quanto sua presença, era uma brisa gostosa que arrepiava cada pelo da superfície de minha pele. Abracei cada folha encontrada, todas as cartas que deveriam estar em suas mãos, apertei-as em meu peito. Tive certeza, a absoluta e absurda certeza de que naquele momento você ouviria meu coração acelerar.

maio 18, 2010

(In)Sanidade.


Pode parecer fácil, e até ser visto como heróico, se desfazer de vínculos amistosos, ou entrar em rivalidades, por causa de uma amizade. Sabendo, ou não, da durabilidade do “laço pivô”, defender quem se gosta parece justo (até mesmo quando quem está do outro lado da história é tão adorado quanto).



O sangue ferve. As mãos tremem. As palavras são soltas sem o mínimo de cautela. Sabe-se o que machuca, onde está cada ferida. Ataca! Ataca mesmo que não seja por causa pessoal. Ataca somente por instinto. Por opção.


Agora basta abrir os olhos. Um ato rápido e simples. Ver. Enxergar. Responder. É justo? Perdeu! Perdeu tudo o que tanto defendeu. Falhou na briga mais importante. Está sozinho!

maio 13, 2010

Manual de Instruções.


Ela adentrou a sala com seu material envolvido pelos braços. Os ombros estavam semi erguidos, como se naquela posição aclamasse por proteção. Conforme se aproximava, a maneira como estava vestida chamava mais atenção -rasteirinhas de bolinhas com um pequeno laço nas tiras que enfeitava seu peito dos pés, calça jeans um tanto justa que delineava suas pernas, e uma fina blusa clara em formato de jaleco. Sua estatura mediana e seus poucos quilos passavam uma imagem de bondade, sobre sua mente, porém, não se pode afirmar com tanta certeza. Discursos com data de validade passada provaram que ali estava uma garota leal ao manual de instruções; Como ser uma princesa.


Nada com nada. Princesas defendem o planeta, usam canetas coloridas, falam calmamente -sempre com uma postura encolhida. Não falam palavrão, defendem o ser homem. Entendem os animais. Acreditam em duendes, tem amigas fadas. Tem letra arredondada, desenhos caprichados. Sua voz fina e de baixo tom representa sua delicadeza, e se complementa com a sutileza do andar. Elas se vestem bem, escovam os fios de cabelo com perfeição, se maquiam para onde quer que vão. As princesas são indefesas, e visivelmente, facilmente, admiradas.


É fácil en(ganar)cantar. Vamos ser uma princesa hoje?

maio 08, 2010

Bandeira branca.

Antonieta era só mais uma adolescente com seus quinze anos de idade que, como outras milhares, enfrentava batalhas de uma interminável guerra cotidiana. Já era tarde da noite, inicio da madrugada. Ao olhar para o relógio, notou ser pouco mais que meia-noite, olhou rapidamente para o teto e tomou coragem. Empurrou pedaço por pedaço do seu corpo para fora do sofá, e caminhou pelo curto, mas que ali mais parecia infinito, corredor que a separava de seu quase arqui-inimigo. Chegando na porta de entrada deparou-se com a posição indefesa e de fácil ataque, cruzou seus braços e parada ali ficou por alguns minutos talvez. Com seu corpo encostado na batente, seu peso totalmente jogado sobre ela, permitia-se alguns sorrisos formados pelos lábios. Antonieta direcionou-se ponta a ponta como quem estivesse andando sobre ovos e cutucou os pés delicadamente de quem estava deitado. Quando notou, mesmo na escuridão, os olhos abertos e espantados fitando-a, sussurrou:

-Feliz dia das mães, mãe!

Um feixe de luz perdido no final do túnel apareceu repentinamente para Antonieta.
Era um sorriso de agradecimento pela bandeira branca erguida naquela noite.

Ser humano x Perfeição.



“ Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. “ (Antoine de Saint-Exupéry)


Um erro. Um ato mal pensado, irracional, inocente talvez. Basta um passo em falso para que o nome suma, e todo o histórico de vida desapareça. É simples de entender, e quando acontece, é tão rápido quanto um carro na corrida de F1. Ao fechar os olhos no ato involuntário de piscar, e quando voltar a abri-los, pronto, já foi, a borracha do erro se concretizou e apagou.


A grande questão por trás disso é, se a confiança, um dos sentimentos indispensáveis para um bom relacionamento, some de cara, logo na primeira atitude equivocada, como fazer para consertar o estrago? Na realidade, tem como?


Talvez pela posição que me encontro, essa solução não esteja dentro do meu campo periférico de visão. Então, torno-me vazia quando tento encontrar uma maneira de provar que os erros são o caminho para o certo, e que a falta de confiança de terceiros nada mais é, senão um impulso para a desistência.


Errar faz parte da dádiva que é viver. No entanto, pagar por isso, também.

maio 06, 2010

“Sou brasileiro e desisto nunca!”


Ah! Qual é? Qual o orgulho que a sua (nossa) nacionalidade dá? Futebol? Que é marcado por guerra ininterruptas de torcidas “organizadas”, e pelo os melhores jogadores caírem fora do país na primeira, no máximo segunda, chance. Carnaval? Que caracteriza muito a vida cotidiana do país, certo? Festas, bunda de fora, e tudo mais. Povo caloroso? O que, convenhamos, só vemos que essa paixão existe quando é um artista, seja ele de qual área for, que está diante das pessoas, porque quando é um morto de fome caído pelo chão sem ter sequer onde se deitar, nenhuma paixão é visível ali. “O cara!”, segundo Barack Obama? Nosso querido Presidente te dá orgulho de ser brasileiro? Ok, reconheçamos que para quem é semi-analfabeto, que começou como torneiro mecânico, e hoje estar na Presidência da República de um país do porte que o Brasil é (e quando digo “porte” quero dizer pela imensidão do território e número de população), a luta foi grande e nada fácil. Porém, sabe você que no Governo Lula há mais de cem casos de escândalos? Os quais, é claro, ele não sabia.


Vamos lá, 2010 é ano de novas eleições. Além do presidente da República, também serão eleitos governadores, senadores e deputados federais, estaduais e distrital. Sendo que:

Presidente da República – quatro anos no governo.

Senador – oito anos.

Deputados – quatro anos.

Ignorando as reeleições, já é um bom tempo! Sim, é claro, não deixo de lado o fato de que com a quantidade de coisa a ser feita, o tempo vira curto, no entanto, é o suficiente para fazer um enorme estrago também. Por isso, a única maneira de podermos corrigir o país, ter orgulho de onde vivemos (e não, não estou falando das praias e nem nada disso!), o primeiro passo a ser dado é do povo. Sim, do povo. Este mesmo que elege os carrascos para o poder e que depois reclamam. Um voto com sabedoria, e com o mínimo de consciência, pode mudar tudo. Não adianta pensar que “as crianças são o futuro do Brasil”, sendo que a cada mês as coisas pioram duas, três vezes mais. É uma bola de neve que nunca para de rodar, de crescer.


Candidatos à Presidência da República:

Dilma Rousseff (PT),

Ciro Gomes (PSB-CE)

José Serra (PSDB)

Aécio Neves (PSDB)

Marina Silva (AC) -deve ser a candidata pelo Partido Verde-.


Para que o título deste Post tenha sentido, é necessário ter uma motivação.

E o Brasil não tem mais isso!

maio 03, 2010

Deus


"Entenda minha descrença, desconhecido interlocutor.
Ela não é oriunda das tormentas que vi e vivi.
Provém das inúmeras e gélidas noites que acordei,
Trêmulo com o cortante frio que jamais senti.

Fujo de olhares impregnados com desprezo.
Ouço palavras vis, travestidas de benevolência.
São pronunciadas com com falsa meditação,
Por homens convictos de Tua existência.

Perco-me na confusão que chamam de Vida.
Calado pelos outros, parei de me expressar.
Guardo para mim as tristes incertezas,
Que poucos ousam questionar.

Todavia, não é o meu silêncio forçado que incomoda.
Tampouco palavras repressoras e olhares de censura.
Não! O que tira meu sono à noite, Senhor,
É essa Tua indiferente – quiçá apenas ausente – postura.

Talvez minha muito limitada mente mortal
Não tenha captado o Vosso grandioso plano.
Mesmo assim, abomino esse propósito maior
Que, sem explicações, subjuga o ser humano.

És tão abstrato! Como Te descobriram; onde estás?
E nem sequer é essa a razão da crença inviabilizada.
Pois de imediato reconheço: eu até poderia ter ,
Se vivêssemos de forma mais civilizada.

Para uma mera conclusão, calha reforçar o pensamento.
Nunca Te manifestastes, erguestes de alicerce nenhum.
Criamos molde utópico para o nosso próprio Criador,
Mas o vazio é o mesmo. E agora? Criaremos mais um?

Não espero acordar amanhã e encontrar a resposta
Que até hoje, apesar da busca constante, nunca veio.
Mas não nego que ainda sonho em descobrir, algum dia,
Que tudo isso não passa de um surreal devaneio.

Se por ventura a morte me acordar para outra realidade,
Então talvez haja um fio no qual perdure a esperança.
Mas enquanto não deixo a vida, continuo aqui;
O homem sem dormir, a alma que nunca descansa."

*Esse texto foi encontrado em uma comunidade do Orkut. O dono é identificado como Rourke. -O título foi por mim alterado, mas o texto foi devidamente mantido de acordo com sua forma original.

abril 29, 2010

Eu conheci.


A primeira vez que o vi, eu assustei até demais. Jamais poderia crer que um dia aquilo aconteceria, nem nunca imaginei que era algo visível. Na realidade, sempre duvidei da existência.

Meu anjo da guarda estava sobre o meu corpo, me fitava com um sorriso largo em sua face. E sua aparência era típica de contos infantis, cachinhos dourados, olhos claros, pele branca, bem branca. Estava vestido com apenas uma peça de roupa, algo largo e de cor clara, um tecido semelhante a seda. Ainda não tenho certeza se é um garoto ou uma garota, e para falar a verdade, sei nem se tem essa diferenciação. Seus dentes perfeitos que montavam seu sorriso me conquistavam e me faziam sorrir também. A sensação plena de paz que tomou conta do meu corpo me fez estremecer, mas com a certeza de que era por algo bom. Mesmo um pouco distante, pude enxergar seus lábios se mexerem e como mágica, fui presenteada com um “bom dia!” em um tom doce no pé do ouvido.

Desde então, minhas manhãs são iniciadas e tranquilizadas assim, com um lindo pequeno garoto, ou garota, me desejando bom dia antes mesmo de eu me levantar.

abril 26, 2010

2040.


Pequena menina,


Com certeza isso é o tipo de coisa que deveria ser dito olhando nos olhos, mas como eu sei, ou acho que sei, as pessoas tendem a esquecer como são as circunstâncias em determinadas idades quando tem filhos. Então preferi escrever-te essa carta que somente será lida daqui a trinta anos. No seu aniversário de quinze anos.


Minha linda, todos dizem que é nessa idade que deixamos de ser menina e passamos a ser mulher. Não acredite! É bobagem! Não é obrigado ser mulher nessa idade, até porque, pelo o menos até agora, você só responderá como responsável por seus atos com os dezoito anos. Enfim.


Se ame. Se ame mais do que qualquer homem (ou mulher). Se por um acaso um dia o espelho te disser que não é bonita, saia da frente dele o mais rápido possível. NÃO o escute. Por que? Porque ouvi-lo lhe fará mal, e te tornará em alguém obcecada para buscar uma perfeição. E acredite, essa perfeição não é perfeita para você, e sim para os outros. Estude! Estude muito, é a única coisa que te dará adjetivos realmente válidos. Não queira fazer parte dos “bons” do colégio -aqueles que tiram nota baixa e comemoram. Caso tenha um encontro marcado, conte-me. Conte não somente para mim, mas para seu pai também -não está nos meus planos ter um marido cabeça fechada-, nossa relação será melhor assim. Namorados? Não se zangue comigo, eu vou contrariar muito quando eu não gostar da pessoa, mas tente escolher bem, por favor. Ah! Tecnologia? Passe longe disso, ou pelo o menos evite criar vínculos amistosos ou amorosos através dela. Isso te derrubará e vai te deteriorar aos poucos. Seu irmão logo completará a maior idade, e com isso vem faculdade, amigos mais velhos, bares, baladas. Não queira acompanhar esse ritmo. Talvez você dê conta dele, mas com certeza, você não se sentirá confortável -eu passo por isso. Não sofra sozinha. Eu sei o quanto é bom chorar calada, mas isso não faz bem. Caso faça isso com frequência, sua família será excluída da sua vida e nunca iremos poder te ajudar.


Saiba desde já, se por algum acaso duvida, que eu te amo muito! Entenda que tudo o que faço hoje, com meus quinze anos, já é pensando no seu futuro e no de seu irmão. Vocês estão no meu coração sem nem terem um pai ainda. Mas eu sei, e acredito de verdade, que de alguma forma já está tudo traçado, e que seremos uma família feliz.


Feliz aniversário, minha princesinha.


Sua mãe, L.


Campinas, 26 Abril, 2010.

abril 24, 2010

Have pride in who you are.


Eu sabia que já estava na hora de confessar meus desejos. Sabia que na verdade, já tinha passado dela. Estava sendo nada fácil ter de conviver com aquele segredo a tanto tempo - dois anos talvez. A briga, o reboliço, que causaria chegaria nem perto do que a que tive de enfrentar comigo mesma - o complexo de que era errado. Foi nesse momento de desespero para contar que tomei fôlego e sentei-me. Seu rosto me transmitia uma imagem de paz que logo, eu tinha certeza, mudaria. Os olhos me queimavam, eles me intimidavam, e quase eram o suficiente para me fazer desistir. Ergui minhas mãos com as palmas viradas em sua direção, como um gesto de quem pede calma em silêncio. Logo as abaixei novamente apoiando-as sobre minhas pernas. E então, comecei a falar.

- Por favor, apenas me ouça! Pode ser que isso derrube nossa família, pode até ser que isso te faça criar um tipo de desgosto por mim, mas eu preciso falar. Não posso mais guardar esse tipo de segredo com medo de ser rejeitada. Talvez eu nunca devesse ter assumido para mim mesma e de alguma forma ter aceitado, mas seria um erro imenso querer mudar meu gosto, meu instinto. É sim, já faz dois anos ou talvez mais. Eu gosto de mulheres! –Tomei um fôlego profundo, e logo continuei sem dar espaço para que me retrucasse. – É! De mulheres. Não, eu não gosto somente de mulheres, e nem tenho vontade de ter uma vida sexual com alguma (“pelo o menos não ainda”, pensei), e não significa que olho para todas que cruzam o meu caminho com desejo. Homens me atraem. E mulheres me fazem tão bem quanto eles. Já tive relações com algumas e, é claro, apenas elas sabem desses momentos. Apaixonei-me por uma, mas não deixei que o sentimento se alastrasse, porque eu já sabia que nunca poderia trazê-las para casa e apresentar para meus pais como minha namorada.

Deixei que um peso imenso caísse dos meus ombros e logo os deixei cair juntos. Minha coluna adquiriu um formato mais arredondado, e minha cabeça permitiu-me apenas olhar para o chão. Eu podia sentir uma reação igual a minha, talvez uma decepção ou um alívio por saber o que estava acontecendo. Insano.

Chacoalhei minha cabeça rapidamente, cerrei meus olhos com força e fixei em minha mente.
“Se não tem forças para admitir ao seu próprio reflexo sua bissexualidade, como poderá olhar aos que te amam e dizer? Pode ser fácil falar sem parar e sem ter alguém para responder-te. Mas a pressão para que mudes, para que desista e se convença de que é apenas um momento, será muito maior do que a que um espelho pode parecer causar. Seja forte!”

Levantei de minha cama e deixei que o espelho refletisse apenas o espaço vazio que ali ficou.

abril 21, 2010

Loveless.


- (...) Eu te amo!
- Sério? É verdade? Você me ama?
Um silêncio instantâneo tomou conta por alguns minutos.
- Não! É que eu queria puxar um assunto e não sabia o que dizer.
- Ah!

Núcleo atômico.


Eram na verdade dois prótons cobertos por pele de alabastro. Os olhares intensos que trocavam eram perceptíveis aos olhos de qualquer um que dedicasse alguns segundos para aquela cena. A maneira como ela se aproximava dele mostrava claramente uma alma lânguida e inerme, em relação à aquela sensação de estar chegando perto ao agro de tão igual.

Suas mãos se uniram, mas seus corpos mantiveram-se distantes -uma verdadeira labuta! Ali, naquela junção entre duas cargas positivas, houve um espaço de inteiração forte, onde ambos já estavam acomodados indo contra à lei da física.


A dolência não se deixava passar por sorrisos adamastóricos que aos poucos surgiam. O palor de suas peles ia se partindo quando a rutilância tornava aos seus olhos. Tamanho exagero de sentimentos que ali estava presente, que nem sequer um ocaso poderia ofuscar.


Outrora os elétrons, a sociedade, traziam de volta os fantasmas noctívagos que implantavam naquela união sementes do monótono, do lasso. Afundavam-os em perfeita hipocondria.


Desd'aí só mesmo a imaginativa poderia salvá-los e trazê-los de volta ao seu mundo particular. Onde somente eles existiam.

abril 17, 2010

Veja bem...


Não olhe nos meus olhos tentando encontrar alguma alma,
porque não encontrará!
Não procure sentimentos no meu coração,
porque não achará!
Me falta uma parte, a qual talvez eu nunca mais terei de volta.
Me faltam pedaços que trariam verdades
e que justificariam todas as minhas revoltas.

Não adianta tentar encontrar em mim vestígios de sentimentos,
ou uma alma livre com esperanças.
Enfrente somente minhas atitudes,
pois elas revelarão meias ideias, alguns pensamentos,
parte das lembranças.

E a partir disso, você saberá quem sou.
Me conhecerá ao meio, na verdade,
porque sequer inteira estou.

abril 13, 2010

Efeito borboleta.


Há quem acredite que a solução do que se vive no presente, seria voltar no tempo e mudar situações. No entanto, quais seriam as novas consequências a viver?

Arrependimentos sobre atos passados podem existir, mas o desejo de mudá-los é, particularmente dizendo, inaceitável. De uma forma ou outra, os erros e decepções fazem com que haja um amadurecimento. E tendem a nos levar ao progresso, e não à vontade de regredir.

No momento que tomamos uma decisão, não sabemos quais serão os frutos dela. Logo, mudarmos o passado seria tão incerto quanto quando o vivemos como presente.

Ora erro, ora acerto. Ora incerto, sempre incerto.

abril 04, 2010

Por que?


Por que é que temos essa necessidade de ter um amor, ou até mesmo um affair? Por que nunca estamos bem sozinhos, com amigos, ou família? Por que abrimos mão de relacionamentos amistosos tão facilmente para nos entregarmos para algo que sequer sabemos se dará certo? Deve ser o efeito causado pelo status "solteiro(a)". Tão insano.

Sei bem, acreditem!, no quão ruim é querer um abraço de aconchego, e não ter. Como é desesperador não ter em quem olhar nos olhos e chamar de amor, ou qualquer outro apelido bobo e incompreensível. Compreendo a angustia de desejar alguém com um olhar mais sonhador, e não poder passar disso. Tão ingênuo.

Talvez por eu ainda não ter passado por esse fogo que, dizem ser, é o amor, que eu não entenda esse medo todo de não tê-lo novamente. Mas, cá comigo, concorda que eu deveria estar a puxar meu cabelo por poder cair morta sem nunca ter provado o gosto do tão dito? Por que, como já não é novo, amor só se sabe o que é, quando sente. Tanto é que explicações são vagas, são substituídas por meros sintomas como o de uma gripe qualquer.

Por fim. De novo aconteceu. Mais uma vez. Não quero perder mais amizades. Acho que nem quero mais tê-las comigo se for para vê-las escapar por entre meus dedos, por causa de uma ameaça de romance.

É tudo tão utópico e desnecessário. Tão tão.

março 29, 2010

Parte I – Significados.

Saudade: 1. Lembrança grata de pessoa ausente ou de alguma coisa de que nos vemos privados. (Dicionário Priberam)


Amor: 1. Sentimento que induz a aproximar, a proteger ou a conservar a pessoa pela qual se sente afeição ou atração; grande afeição ou afinidade forte por outra pessoa. (Dicionário Priberam)


Paixão: 1.Sentimento intenso de atracção!atração entre duas pessoas. (Dicionário Priberam)

março 27, 2010

60.



Em março de 2010, o Brasil participa oficialmente da Hora do Planeta. No sábado, 27 de março, entre 20h30 e 21h30, diversos monumentos e locais simbólicos do país serão apagados por uma hora para mostrar a nossa preocupação com o aquecimento global.

No Brasil, o apagar das luzes representa um sinal claro aos governos de que a população quer o fim do desmatamento, responsável por mais de 70% das emissões de gases de efeito estufa do país.

março 26, 2010

Estranha personalidade.


Amo o arrepio da brisa gelada na pele, mas odeio não ter alguém que o evite.

Não gosto de ser deixada falando sozinha, mas vivo o fazendo.

Falar comigo mesma em idiomas de autoria própria, aliás, me encantam, mas ter de interpretar dialetos alheios me cansam.

Preservo a calma e o silêncio, só que não me dê cinco minutos de poder que gritarei aos quatro cantos e ficarei vermelha de raiva.

Monotonia me corrói, entretanto mudanças são desprezadas por mim.

Tédio me dá dor de cabeça. E ter o que fazer, preguiça.

Não me toque”. “Me abrace!”.

Piadas bem elaboradas são fracas para o meu humor, e situações bobas me fazem cair na gargalhada.

Sou estressada e bem resolvida superficialmente, mas sou carente e ligeiramente perturbada.

Escrever alivia minha mente, mas ler a bloqueia.

Gosto de amar e ser amada, mas reciprocidade deixa minha vida chata.

Distância me incomoda por não poder ultrapassá-la na maioria das vezes, mas agradeço sua existência por me impedir de matar alguém parte do tempo.

A voz, o tom, as palavras ditas me roubam o coração, mas o silêncio é mais completo para mim.

Preciso de pessoas a minha volta dizendo minhas qualidades, mas minha auto crítica não me deixa vê-las e ouví-las.


Sou confusa e determinada. Quieta e agitada. Calma e hostil. Auto controle perfeito, e descontrolada. Educada e respondona. Falo baixo, mas grito. Preso palavreado culto e de baixo calão. Gosto de mimos e odeio grude.


Sou eu mesma e não sou.

março 25, 2010

Hey.


I have been struggling for one or two years what some people struggle their entire lives with, being in love with someone you can not seem to be with. I have come to realize in these past years, that love is not as hard as some people make it to be.

When you are in the infinite state of infatuation, a feeling no word or emotion could ever come close to describing, you feel as though this life is worth living. And when you lose it, its unreal. Its a pain i cant describe. Every muscle in my body tenses and my heart pounds so hard i feel like it will kill me.
The thing i have learned most, is that this pain proves to me that my heart and felt a happiness i may never feel again.

I now know from my suffering that the time period in which i did feel this happiness was worth it. There are few moments in life in which i believe we find true happiness, a moment in which everything stands still and every emotion thought or worry is gone, and your a single soul floating in a world of ecstasy. Its a feeling i would not trade for anything.

There is no real conclusion to this, because its undescribable. I do know, that this pain i have felt, this feeling of hopelessness only shows me, i did once fall in love. And every ounce of faith in me, is devoted to the thought of reliving the happiness.

I will always have hope.

março 23, 2010

Inusitado.


Quantas vezes conheceu alguém por um acaso, em um lugar que nunca imaginaria, e que houve logo uma compatibilidade de gênios? Quantas vezes olhou ao lado para tentar encontrar essa pessoa, e se perdeu de tanta gente que havia; menos ela?

Não é novidade alguma saber que as pessoas atualmente têm facilidade em criarem laços. Tampouco novidade é esse coleguismo durar algumas horas de um bom papo, e nada mais. Se impressionar com a maneira como o relacionamento não vai pra frente, chega a ser um ato de ingenuidade. Assim como cobrar a presença dele em sua vida, de desespero.

Algumas vezes depositamos confiança em uma pessoa que aparece de um jeito que nos faz crer que será duradouro; aquela conversa que rende mais do que com um amigo de muito tempo, nos dá a certeza de que no dia seguinte ela se repetirá. Entretanto, quando nos damos conta que, assim como nós inicialmente, ela também estava apenas afim de um papo, ficamos desconsolados e tentando compreender o porquê de não ter virado uma amizade; um motivo para que não aconteça novamente tal acontecimento. Porém, a verdade é que só ficamos “deprimidos” até quando aparece um outro alguém que nos faz esquecer o passado; mas eis que tudo se repete, como um real ciclo.

Convenhamos que também somos propícios a cometer esse quase erro. Portanto, devemos de alguma maneira nos convencer que tudo não se passa de um instante que se apetece uma conversa sincera com alguém que não opinará sobre fatos antigos que lhe ocorreu, afinal, ele sequer sabe a data do seu aniversário, por exemplo. As coisas novas nos fazem crescer os olhos e ficar animados com o resultado que aquilo nos pode causar, e é completamente compreensível. Entretanto, não se deve pôr todas as suas fichas em cima de uma pessoa que pouco se conhece, até porque, você também não sabe a data do aniversário dela, provavelmente.

março 21, 2010

Quinze Anos.


Aos 15 anos recém completados, eu consegui adaptar mais meus pensamentos. Tornando-os mais claros e completos, mas não menos confusos. Algumas vezes falhei, e outras tive sucesso. Tive sucesso quando tirei forças de um lugar que, pra mim, é desconhecido, e trouxe para o presente todas as decepções que estavam guardadas em um passado (não necessariamente distante). Falhei quando passei a viver essas decepções novamente, não levando em consideração toda a aprendizagem que tive em cada uma delas.

Quando eu fechava os olhos, tudo aparecia no escuro da minha mente ao mesmo tempo.Deixando-me confusa e sem capacidade para saber distinguir, relacionar e interpretar aquele amontoado de opiniões e decisões. Hoje, sei separar cada um no silêncio, sem precisar me pronunciar a outro alguém. Consigo ver tudo com mais clareza, de modo que não se tornem apenas angustias guardadas dentro de mim.

Aos 15 anos eu entendi que se alguém disser que me ama, eu vou acreditar. Considerei a hipótese de poder sonhar. Admiti que esperava por um príncipe encantado. Abri os olhos e me eduquei a viver aquilo que é motivo da minha respiração naquele instante. Eu vi que gostar de alguém pode me levar à exclusão só por amar diferente. Vi mais ainda. Vi que há pensamentos, gostos, atitudes e curiosidades, que não podem ser confessadas nem com amigos de longe prazo. Aprendi que as vezes ficar calada me torna uma poeta. E senti. Senti a excitação de estar mudando, crescendo e, acima de tudo, amadurecendo.

Claro que cada um tem seu momento de descoberta. E o meu foi aos 15 anos!

março 19, 2010

Bad Romance.



Eu queria entender no que é baseado a desconfiança e toda a falta de vontade de estar junto; essas coisas geram consequências nada boas que afetam profundamente o emocional de qualquer pessoa que passe pela situação. É como a velha história das marcas dos pregos na madeira, nunca irão embora ou deixam de existir. Cada palavrinha de reconciliação é jogada ao vento para quem quiser ouvir e tentar compreender o sentido dessa busca sem fim, inútil.

Basicamente, tudo se perdeu na enorme bola de neve que nosso romance se tornou, e agora aqueles bons e raros momentos juntos se transformaram em pequenos resíduos de lembranças -nada mais que isso.
Não minto ao dizer que ainda te busco nos meus olhos quando encaro um espelho, ou quando vejo marcas de pés pelo meu caminho. Entretanto, é indescritível a sensação de alívio que sinto quando percebo que chegamos ao fim sem ao menos percebermos.
Foi uma tempestade que nos fez ter ondas de calor sem nexo, mas que também foi capaz de gelar cada centímetro de nossos corpos. E aquela tal melodia que um dia foi as batidas de nossos corações acabou virando duas músicas distintas, e inaudíveis.
Por fim, as almas que um dia se juntaram, voltaram a ir em busca de novas aventuras. Procurando, ainda, por um rumo certo, perambolando por todas as ruas estreitas, ou não, evitando sempre o calor do Sol -por apenas um motivo, mater-me sempre conectada ao aquecimento que seus braços foram capazes de me trazer.