
Criança. Menina. Mulher. Dezesseis anos.
Passei maior parte dos meus dias buscando dar alegria àqueles que cruzavam meu caminho, fugindo de uma convivência particular comigo mesma e mais ninguém. Sorrisos alheios eram os meus sorrisos, assim como as lágrimas, aos poucos, também se tornaram as minhas. Meus motivos viraram insetos em uma sala escura; minha motivação tinha um nome só que eu me recusava a mudar: os outros. O medo me segurou dentro de uma jaula que eu mesma fiz questão de soldar, minha proteção era a armadura que eu vestia para enfrentar a guerra de não ser eu.
Por diferenças no modo de lidar com as situações, eu desfiz amizades como quem desamarra um laço, abri mão do maior bem da humanidade e tive que aprender a fechar os olhos e me entregar mesmo que desconfiada. Novamente, fugindo da convivência "eu-eu". Todos os pronomes, no meu mundo, foram mudados de posição, e aquele que deveria ser o primeiro, tornou-se o último. Sem receio, vivi assim por muito tempo. De olhos fechados. Me apaixonei por pessoas que nunca vi, acreditei em olhos terrivelmente fantasmas, e me doei ao coleguismo que muito me era conveniente.
Achava que tudo estava bem. Afinal, ninguém nunca soubera dos meus problemas e dos meus verdadeiros sentimentos. A simpatia falsificada e já bem treinada enganava qualquer par de olhos e um coração que aparecia. (E ainda engana!) Acreditava sem dó na ingenuidade do ser humano, e cuidava para que a minha permanecesse bem escondida. Jurava para mim mesma que lidar com os outros, com a vida dos outros, era melhor que ter de encarar a minha realidade frente ao espelho. Me enganei profundamente. A criança, menina, mulher, então se viu sentada, em vez de frente ao espelho, frente à um profissional da saúde mental. Os anseios, os medos, as rivalidades, as decepções, os arrependimentos, as lembranças e as marcas foram postas e expostas claramente.
A prioridade, enfim, foi invertida e meus sonhos se posicionaram no devido lugar; o primeiro lugar! E o aprendizado contínuo de viver comigo mesma me mostrou que sozinha posso mais que acompanhada. Sozinha e determinada tenho a força do mundo.
A busca maior, hoje, é para mim e comigo.