dezembro 18, 2010

Algum tipo de desabafo.


Criança. Menina. Mulher. Dezesseis anos.

Passei maior parte dos meus dias buscando dar alegria àqueles que cruzavam meu caminho, fugindo de uma convivência particular comigo mesma e mais ninguém. Sorrisos alheios eram os meus sorrisos, assim como as lágrimas, aos poucos, também se tornaram as minhas. Meus motivos viraram insetos em uma sala escura; minha motivação tinha um nome só que eu me recusava a mudar: os outros. O medo me segurou dentro de uma jaula que eu mesma fiz questão de soldar, minha proteção era a armadura que eu vestia para enfrentar a guerra de não ser eu.

Por diferenças no modo de lidar com as situações, eu desfiz amizades como quem desamarra um laço, abri mão do maior bem da humanidade e tive que aprender a fechar os olhos e me entregar mesmo que desconfiada. Novamente, fugindo da convivência "eu-eu". Todos os pronomes, no meu mundo, foram mudados de posição, e aquele que deveria ser o primeiro, tornou-se o último. Sem receio, vivi assim por muito tempo. De olhos fechados. Me apaixonei por pessoas que nunca vi, acreditei em olhos terrivelmente fantasmas, e me doei ao coleguismo que muito me era conveniente.

Achava que tudo estava bem. Afinal, ninguém nunca soubera dos meus problemas e dos meus verdadeiros sentimentos. A simpatia falsificada e já bem treinada enganava qualquer par de olhos e um coração que aparecia. (E ainda engana!) Acreditava sem dó na ingenuidade do ser humano, e cuidava para que a minha permanecesse bem escondida. Jurava para mim mesma que lidar com os outros, com a vida dos outros, era melhor que ter de encarar a minha realidade frente ao espelho. Me enganei profundamente. A criança, menina, mulher, então se viu sentada, em vez de frente ao espelho, frente à um profissional da saúde mental. Os anseios, os medos, as rivalidades, as decepções, os arrependimentos, as lembranças e as marcas foram postas e expostas claramente.

A prioridade, enfim, foi invertida e meus sonhos se posicionaram no devido lugar; o primeiro lugar! E o aprendizado contínuo de viver comigo mesma me mostrou que sozinha posso mais que acompanhada. Sozinha e determinada tenho a força do mundo.

A busca maior, hoje, é para mim e comigo.