dezembro 03, 2010

Surtando em palavras.



Não sei quem é essa mulher. Não sei a idade, o estado civil, onde reside, nem sequer o nome direito eu sei. Talvez seja algum que começa com a letra "S"; Sônia, Silvia, Sabrina. Não sei. Mas ela é pirada. Piradinha!

Na primeira vez que fui visitá-la em um falso endereço, creio eu, tudo era um tanto diferente do que eu imaginava. A sala não era absolutamente escura e não havia apenas um divã que me obrigaria a ficar de costas para essa senhora logo que eu me acomodasse. Tem um decoração típica de algum lugar que não é este que estou, uma temperatura baixa causada pelo ar condicionado, paredes que se contrastam deixando confortável o recinto. Além disso, ainda há uma poltrona giratória no centro da sala e em volta há três tipos de sofá; cadeira-sofá, sofá de dois lugares e, é claro, um divã. Escolhi o de dois lugares e logo me apoderei do canto direito e lá me afundei. "Sra. S" foi para o seu lugar, a tal poltrona no centro e ficou a me observar e apenas uma pergunta, que deu sequência à outra, surgiu: "E aí? Como é que estão as coisas?" O que será que ela exatamente esperava que eu dissesse? Talvez tudo, porque foi isso o que ela conseguiu tirar de mim: tudo. Por alguma razão os seus poucos movimentos de balançar a cabeça positivamente e escrever algo em uma folha de papel que estava apoiada sobre uma prancheta me deram confiança e lá me encontrei. Tagarelando. Sem parar um segundo, sendo necessário, às vezes, até umedecer os lábios com a língua. Eu fui sincera em cada passagem da minha vida que contei e à medida que minhas palavras eram soltas, sua folha de papel foi virada para verso. Me perdi algumas vezes tentando adivinhar que diacho aquela senhora (apenas respeitosamente chamando, porque é um tanto nova) tanto escrevia. E então, ela decidiu interromper; "Irei dizer o que acho que está acontecendo com você. Depois me diz se chutei muito longe.", foi o que ela disse.Fitei seus olhos e tentei encontrar o fundo de tanta paciência e sabedoria. Naquele momento eu ouvia uma mulher, que até então nunca tinha visto na vida, falar verdades que eu nunca havia revelado. Verdades extremas e mais íntimas. Eu ri. Eu ri de desespero por seu chute não ter sido longe, mas sim certeiro -absolutamente, e ela acompanhou com um sorriso afirmativo. A maneira como interpretava o que durante a uma hora escreveu me assustava e me fazia pensar se aquilo era perigoso. Me fez pensar se confio tão rapidamente assim para dizer tanto sobre mim à um desconhecido. Me fez pensar, simplesmente, sem pressa.

Sra. S é pirada. Piradinha!