novembro 08, 2010

Presente!


Entre. Agora conte: quarta fileira da direita para a esquerda, quarta carteira da frente para trás. Aqui estou. Pode me ver? Sem problemas caso a resposta seja "não"; na realidade, é o esperado. Juro! Não é que eu estou me escondendo com essa jaqueta relativamente enorme, trata-se mesmo é de um efeito reflexivo que meu ser em si causa. Funciona mais ou menos assim: os olhares me encontram, me vêem, mas logo são refletidos para qualquer outra direção - o que não permite que eu seja enxergada, o que tira de mim toda a coloração existente no meu corpo, transformando-me em uma perfeita amostra de invisibilidade.

Seja lá qual for o motivo para esse fato, me sinto incomodada. Me incomoda saber que se meus aliados não estão presentes, torno-me um nada. Me congela o peito ter conhecimento de que ainda me afeta, mesmo que secretamente, a ausência deles. E eis que reaparece o "eu-nada" por aqui; minha vida segue, erroneamente, de acordo com o estado de espírito alheio, como se eu somente fosse capaz de lutar pela minha coloração com alguém do meu lado - mesmo que este em silêncio.

Os ponteiros do relógio correm, as aulas começam e terminam, o sinal bate diversas vezes, ouve-se alguns "Bom dia!", correria com conteúdo escolar e nenhum desses aliados adentram a sala de aula. E então, surge a comprovação e preparação para o provável futuro que está cada vez mais perto. Sinto cócegas nos olhos, as lágrimas pedem para sair, mas não permito.
Mesmo enfraquecida é necessário encarar: eu, em fim, não estou aqui.
(Antonietta)