maio 03, 2010

Deus


"Entenda minha descrença, desconhecido interlocutor.
Ela não é oriunda das tormentas que vi e vivi.
Provém das inúmeras e gélidas noites que acordei,
Trêmulo com o cortante frio que jamais senti.

Fujo de olhares impregnados com desprezo.
Ouço palavras vis, travestidas de benevolência.
São pronunciadas com com falsa meditação,
Por homens convictos de Tua existência.

Perco-me na confusão que chamam de Vida.
Calado pelos outros, parei de me expressar.
Guardo para mim as tristes incertezas,
Que poucos ousam questionar.

Todavia, não é o meu silêncio forçado que incomoda.
Tampouco palavras repressoras e olhares de censura.
Não! O que tira meu sono à noite, Senhor,
É essa Tua indiferente – quiçá apenas ausente – postura.

Talvez minha muito limitada mente mortal
Não tenha captado o Vosso grandioso plano.
Mesmo assim, abomino esse propósito maior
Que, sem explicações, subjuga o ser humano.

És tão abstrato! Como Te descobriram; onde estás?
E nem sequer é essa a razão da crença inviabilizada.
Pois de imediato reconheço: eu até poderia ter ,
Se vivêssemos de forma mais civilizada.

Para uma mera conclusão, calha reforçar o pensamento.
Nunca Te manifestastes, erguestes de alicerce nenhum.
Criamos molde utópico para o nosso próprio Criador,
Mas o vazio é o mesmo. E agora? Criaremos mais um?

Não espero acordar amanhã e encontrar a resposta
Que até hoje, apesar da busca constante, nunca veio.
Mas não nego que ainda sonho em descobrir, algum dia,
Que tudo isso não passa de um surreal devaneio.

Se por ventura a morte me acordar para outra realidade,
Então talvez haja um fio no qual perdure a esperança.
Mas enquanto não deixo a vida, continuo aqui;
O homem sem dormir, a alma que nunca descansa."

*Esse texto foi encontrado em uma comunidade do Orkut. O dono é identificado como Rourke. -O título foi por mim alterado, mas o texto foi devidamente mantido de acordo com sua forma original.