junho 02, 2010

Cartas sem destino.


No meio de papéis descartáveis de uma das minhas gavetas, encontrei bolas de papel. Papel amassado, bem amassado. Abri cada uma e li as folhas amarrotadas que liberavam um aroma do meu perfume fundido com o cheiro de pó. Ali, naquelas linhas mal escritas, haviam descrições de encontros nossos, sonhos meus. As palavras se encontravam e traçavam um verdadeiro destino utópico que parecia estar perto de acontecer. Tal perfeição de detalhes que meus lábios chegavam a chorar, minha boca se enchia d'água com os gostos que livremente sentia.

Um desses papéis estava particularmente mais amarelado. Lendo-o, admirei-me ao notar o efeito da droga que cheguei a experimentar nos desejos ali escritos: você. Um estado de dependência absoluta, uma delícia de sensação que fazia um largo sorriso abrir em minha face. Tão brilhantes eram seus olhos, tão adorável sua pele, tão apaixonante o aperto dos seus braços no meu corpo.

Te senti comigo. Seus passos silenciosos circundavam meu corpo encolhido e ajoelhado no centro do quarto, suas mãos me aqueciam como fresta do Sol em dias de frio, sua voz, tão imaginativa quanto sua presença, era uma brisa gostosa que arrepiava cada pelo da superfície de minha pele. Abracei cada folha encontrada, todas as cartas que deveriam estar em suas mãos, apertei-as em meu peito. Tive certeza, a absoluta e absurda certeza de que naquele momento você ouviria meu coração acelerar.