março 11, 2010

Tornei-me poliglota.‏


Desde o dia em que tive a loucura de ousar a conhecê-lo, eu tinha certeza de que não seria apenas mais um contato. Na realidade, havia só uma coisa em mente: fazer parte da vida dele em algum momento. Como uma boa geminiana -orgulhosa e impulsiva, não hesitei em passar por cima dos meus princípios para conseguir concretizar meu plano mirabolante.

Por fazer parte de uma banda, ser um rapaz bonito, no auge dos seus vinte e um anos, era óbvio que meu caminho seria longo e cheio de obstáculos bem difíceis.

Tava na semana do fim do ano, então o assunto que nos cercava era bem previsível. Festas. Conseguia sem dificuldade prendê-lo com minhas palavras quase sinceras que ofuscavam interesses maiores -e é claro, minha inexperiência.
Não demorou muito para seus grandes olhos azuis cor do céu aumentassem diante da minha falsa imagem que comecei a passar. Com os dias, deixei escapar leves demonstrações de intenções, as quais -como um garanhão nato, nunca deixaria passar despercebido. Caiu na isca.

O que eu não sabia -ou fingia não saber, era que aquela minha nova aventura se tornara para ele uma grande oportunidade, um desejo ardente. Embora eu soubesse que eu estava prestes a aprender um novo idioma, não hesitei em encontrá-lo. Tampouco hesitei de seguir o destino que ele próprio havia traçado. O caminho não foi curto -muito menos confortável, já que ele fazia questão de falar sem parar sobre sua vida (mas nunca falando como homem, mas sim como o fulano que toca na banda). Por vezes tentei pedir para que eu não fosse confundida com uma fã, mas minha voz recusava-se a sair quando seus olhos vinham de encontro aos meus.
Chegamos ao lugar que eu nunca havia entrado, e então me dei conta de que ele estava decidido a ser meu professor naquele dia.

Deixei a onda de realização me invadir de uma vez só, e não permiti que seus lábios me intimidassem sempre que se aproximavam. Eu senti cada dedo de suas mãos dançando pela minha pele, e o toque fazia uma combinação perfeita com a pressão que seu corpo fazia de leve contra o meu. Aos poucos eu me acostumei com a nova língua que ele me ensinava de olhos fechados. Consegui esquecer do mundo -assim como ele havia prometido. E só voltei à lucidez com a água fria do chuveiro que caía como flocos de neve sobre nossos corpos. Vergonha.

Existiu mais carinho, preocupação e paciência, do que imaginava que ele seria capaz de ter. Algumas vezes ele passava sua mão sobre a minha e tentava segurá-la, mas de uma maneira hostil ele logo a soltava -assim como uma pessoa em dieta pegando um doce no armário. Eu acabava entendo, no entanto ficava com vontade de agarrá-la de volta -assim como uma pessoa em dieta encarando um doce no armário.

O caminho de volta foi menos longo do que o de ida. Entretanto, sua voz soava mais íntima, e suas paradas para respirar me permitiam soltar algumas palavras intimidadas. Havia uma ligação no ar, nossos olhares por vezes se encontraram, e como uma consequência gostosa sorrisos surgiam. Por fim, em algumas frases soltas eu encontrava o homem que eu queria.

Ao chegarmos no local de início, dentro do carro nos permitimos uns segundos em silêncio. Olhos nos olhos, lábios nos lábios. Foi agradável e pessoal.

Eu não tinha a capacidade de pensar em mais nada, além de que eu havia me tornado uma poliglota.